quinta-feira, 30 de junho de 2011

A volta dos que não foram


De O blogueiro e o artista



Finalmente de volta pro aconchego. E já não era sem tempo, resmungou a cara-metade que não pôde me acompanhar nessa turnê etílica junina. Uma semana e mais alguns dias de pleno arrasta-pé pelo interior da Bahia, e mais uma parada na capital baiana pra rever os amigos. Aliás, poucos, porque a maioria, se não estava de ressaca, estendia as festas até São Pedro.

São Pedro é santo de viúva, dizia a minha mãe. E nunca acendeu uma fogueira para o porteiro do Céu, nem mesmo depois que ficou viúva. Também é padroeiro dos pescadores, mas, de onde viemos, achar água já era difícil, imagine ter pescador em procissão. A ladainha lá era rezada pra outro santo ou santa, o das chuvas, que não sei quem é.

Nos anos 60, antes de Inocêncio Oliveira se dizer o dono dele, o DNOCS andou mostrando serviço por lá e encanou a água de poço artesiano até as casas do povo. Um milagre de Nossa Senhora do Amparo, a padroeira da terra, que se transformou em muitos votos para os políticos da UDN.  Mas os gestores público nunca fizeram manutenção nos poços e agora a água está salobra e o povo, em vez de matar a sede com um copo d'água cristalina, está se suicidando em câmera lenta com o excesso de sal acumulado no sangue. Não é à toa que o alcaide está se dando bem e expandido seu negócio de hemodiálise pelo sertão baiano.

Mas deixemos a água de lado que no São João o negócio é licor, de preferência, jenipapo. Infelizmente as festas juninas  no Nordeste estão perdendo a tradição graças à contratação das duplas sertanejas e das estrelas da axé music. Em vez de um pau de porteira, dança-se na boquinha da garrafa. Uma cidade baiana contratou a grande estrela forrozeira Adriana Calcanhoto para animar a festa. Voz e violão. São João, o santo mesmo, deve ter feito calo nos pés de tanto dançar.

O prefeito do Junco não fica atrás e tem verdadeira adoração por essas duplas sertanejas e dos pagodes da vida. Por ele, toda festa teria Victor e Léo de dia, e Xande, de noite. Mas este ano a banda tocou diferente. Graças a uma campanha deflagrada nessas comunidades cibernéticas que retumbou nas grotas junquesas, ele foi obrigado a se render à vontade popular e fez o São João dentro dos conformes tradicionais.

E o som da sanfona ecoou de 22 a 25 de junho, reunindo o povo no mais autêntico forró pé de serra. Coube a Dominguinhos, o maior sanfoneiro vivo do Brasil, encerrar com chave de ouro a festa na Praça, no dia 24. Aliás, minto: a surpresa ficou na canja que ele deu a uma cantora local, que fez muito sucesso nos anos setenta e oitenta cantando em banda de baile do marido e cunhados: Lia de Bispão. A multidão vibrou ao ouvir sua voz ecoar na Praça interpretando “De volta pro aconchego”, acompanhada pelo próprio autor da música, e vi muitos olhos lacrimejarem porque uma grande parte dos expectadores era de gente de volta pro aconchego da terra. 

O dia 25 foi dia de concurso de quadrilha junina, mas aí eu já estava com o pé na estrada. 

E o prefeito, depois de elogiado até por alguns da oposição, descobriu que algumas coisas boas nem sempre estão no plim-plim Global.



4 comentários:

Toninho disse...

Seja bem vindo Tom,já li/vi lagrimas por ai da cara metade,rsrs.Que bom que o Junco acordou a mente(sic) adormecida e o bom e velho Dominguinhos pode dar o ar da graça.
Mas esta historia dos poços tem de vir a tona com mais detalhes.
Um abração amigo.

Ana Lúcia Cruz disse...

Oi Tom!

Quando cheguei você já tinha partido.

Fui ao Concurso de Quadrilhas.

Muito Bom!

Precisamos valorizar as tradições e compreender que cada coisa tem seu tempo: São João não é Carnaval, nem Festival de Verão!

Tom Torres disse...

Chuparam tanto o poço que a salinização foi inevitável. Agora, só outros para devolver a potabilidade da água.

Pois é, Ana, São João não é festa de largo.

Ibys Maceioh disse...

Olá,Mestre,Tom,
Sempre bem acompanhado.Esse é um grande cara.Feliz em te-lo de volta ao aconchego.Estou de volta pro meu aconchego...Dominguinhos.Abração.Ibys Maceioh.