segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Luís Pimentel - Conversa de homem pra homem


[Começando a semana no bom humor do velho Pimenta]

Conversa de homem para homem (1)

O pai chegou em casa com ar sisudo e começou aquele papo manjado:

– Filho, precisamos ter uma conversa de homem para homem.
– Neste caso, pai – disse o menino –, não acha melhor esperar eu crescer um pouquinho?
– Não. Tem que ser hoje, agora, já.
– Tá bem. Mas posso saber o que é que está pegando?
– Como assim, “pegando”?
– Onde foi que deu zebra?
– No seu boletim.
– “Demorou”.
– Como?
– Algo errado com o boletim?
– Tudo. Não viu as notas?
– O boletim veio endereçado a você, pai. É feio violar correspondência alheia.
– Mas as notas são suas. Baixíssimas!
– Olhando por que critérios?
– Do razoável, meu filho. Do bom senso, da coerência acadêmica, das exigências mercadológicas.
– Não tem nenhuma dessas cadeiras lá no meu colégio.
– Não seja debochado.
– Não esquenta, pai.
– Não “esquenta”, o quê?
– A cuca, a mufa, os neurônios.
– Vou tirar você do colégio.
– Sábias palavras.
– Vou arrumar um emprego para você. Oito horas por dia, de segunda a sábado.
– Sujou.
– Onde você quer trabalhar?
– Câmara dos Deputados, Senado Federal, um ministério qualquer. Um lugar onde eu possa estar sempre metido em falcatruas.
– Nem pense nisto, pelo menos enquanto eu for vivo!
– Tá vendo que existem coisas piores? Relaxa, velho. Assina o boletim.


Conversa de homem para homem (2)

O filho chamou o pai, queria ter uma conversa de homem para homem:

– Pai, já sei o que vou ser quando crescer.
– Ah, é? Que bom, meu filho. Quer dizer, então, que você já se decidiu?
– Já. Pensei bastante e tomei a minha decisão. E tenho certeza de que fiz a escolha acertada.
– Muito bem. Médico? Advogado? Arquiteto?
– Não, pai. Nada disto.
– Não? E vai fazer o quê, então?
– Vou ser ministro. Que nem você.
– Que é isso, menino? Enlouqueceu de vez? Perdeu o juízo?
– Puxa, pai. Ser ministro é tão importante. Eu tenho tanto orgulho de você.
– Desista! Você é meu único filho, não vou deixar que isto aconteça.
– Não estou entendendo.
– Nem precisa, mas desista dessa idéia. Você vai ter uma profissão, nem que para isto eu tenha que trabalhar.


Nenhum comentário: