Copacabana – como se sabe e reproduziram os cronistas desde os tempos de Rubem Braga – tem muitas histórias. As melhores, como é tradição em qualquer bairro, aconteceram nos bares. As melhores entre as melhores, no balcão, nas mesas ou na calçada do Bip Bip.
Ouvi muitas, vi algumas, essa eu guardei.
A roda de samba domingueira corria no melhor dos mundos, com os violões do Chico Genu, do Gomide, do Fernando Falcão e do Flávio Feitosa; cavaquinhos do Paulinho, do Ari Miranda e do Alex; percussão sob a batuta e o batuque do Jenner, do Bené, do Jovem, do Marcelinho, do Ismael, do Tibau, da Aretha e da Manu. Luxo só.
Alfredinho acabara de dar um esporro num cliente e Paulinho do Cavaco repetia “no alto São Jorge matando um dragão”, do seu samba-hit Saudades dos meus botequins, quando a deusa invadiu o recinto. Blusinha decotada, saiotinha modelo abajur-de-periquita, um sorriso-implante de mudar qualquer repertório. Alguém se lembrou do Geraldo Pereira (ô, ô, ô, que samba bom!) e puxaram Chegou a bonitona. (“Olha só, ô pessoal, que bonitona/Olha o pedaço que acabou de chegar...”). A homenageada rodopiou o balaio entre as cadeiras e todos fizeram Ooooooohhh! Todos. Até Aretha e Manu.
A moça se informou sobre as regras da casa – o freguês se serve à vontade, Alfredinho anota o nome num pedaço de papel de pão e depois, se ainda não estiver de porre, cobra a conta – e soltou a voz na cantoria, rebolando mais que ministro na hora de explicar o inexplicável. Final dos trabalhos, após perguntar quanto devia, ela falou baixinho no ouvido do Alfredo, molhando os lábios com a língua e acomodando um peito em seu ombro:
– Desculpa, Ném, mas é que estou desprevenida.
– Sem problemas – disse ele, dando um golaço no vinho sagrado. – Aqui nós resolvemos tudo.
E chamando duas auxiliares voluntárias:
– Kátia e Simone, minhas filhas, peguem a caixa de calcinhas lá em cima. Escolham uma tamanho GG aqui para a nossa amiga.
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