Fazenda Nova, Pernambuco, a um passo de Caruaru e a quatro horas de Maceió. É lá que fica Nova Jerusalém, o maior teatro ao ar livre do mundo, onde é encenada a concorridíssima peça “Paixão de Cristo”. Até certo tempo atrás o elenco era formado por atores locais, amadores, que ganharam prestígio e fama Brasil afora. E, como tudo que é bom e faz sucesso a Globo compra para poder estragar, o que se vê, hoje, é um desfile de estrelas globais ofuscando o brilho da encenação.
No ano passado eu estava lá, andando de um lado para o outro, acompanhando o calvário de Cristo, torcendo e sofrendo com a sorte ingrata do filho do Todo-Poderoso. Entra ano e sai ano, a mesma cena, os mesmos argumentos, o mesmo roteiro, e o povo sofrendo na expectativa de um novo final. O julgamento, Pilatos lavando as mãos, o povo gritando Barrabás, Cristo cabisbaixo, sem entender sua sina, e a choradeira sincera dos mais sensíveis, incompreendidos com a falta de ação do Salvador. Se nem a si próprio Ele salva, como pode salvar a humanidade? E os judeus, como puderam entregar um inocente ao carrasco só por questão de birra religiosa? Pilatos não queria assumir o ônus da condenação ou de se comprometer com a História e por isso deu-lhes a chance de salvar a pele do seu Messias, mas não quiseram.
- Solto Jesus de Nazaré ou o ladrão Barrabás? – perguntou o Pilatos de Nova Jerusalém, um ator global cujo nome me foge à memória. Os figurantes do espetáculo uniram a voz aos espectadores e um coro retumbou forte e uníssono, se espalhando pela imensidão da caatinga, feito trovão em raras noites de tempestade:
- Solta os dois e prende o Tom! Solta os dois e prende o Tom!
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