Manhãzinha do sábado de Carnaval/Cena
externa/Cinelândia.
A freirinha de bigodes puxou uma cadeira
no boteco da Evaristo da Veiga. O garçom pegou o espírito da coisa e chegou
junto:
– Bom dia, irmã. O que deseja?
O folião descera de Santa Teresa na
véspera, depois de se esbaldar no bloco das Carmelitas. Fizera o caminho via
Copacabana, deixando os últimos pedaços no quase-bloco do Bip-Bip. Estava um
caco:
– Me vê um pastel.
– Queijo, camarão ou carne seca?
– Qualquer um. É só pra ter o que estômago
mandar de volta.
– Vai no de carne seca. Tem mais volume.
O marmanjo de hábito e touca negros riu e
pediu uma dose dupla.
– De quê?
– Qualquer coisa – e abraçou o garçom, que
àquela altura já era um amigo de infância:
– Vou te contar uma história triste.
– Já sei. Esqueceu a carteira no convento.
– Pior. Perdi um amor aqui, ano passado,
no começo do desfile.
O garçom puxou a outra cadeira:
– Conta mais.
– Linda. Vestido de seda branca,
transparente, uma bolinha preta em cada seio, homenageando o Cordão. Olhava nos
meus olhos e repetia “lugar quente é na cama...”
– Vou chorar – gemeu o garçom.
– Deixa de viadagem.
O Bola Preta inchava em direção à Araújo
Porto Alegre. O garçom pediu um tempo ao patrão e resolveu ajuda-lo na busca. O
dono do bar diz que não voltou até hoje.
Um comentário:
Mais uma do Carnaval.
Muito boa.
Um abração Tom.
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