terça-feira, 30 de abril de 2013

Conversa ao pé do balcão

– O culhão é pra quem é roncolho. O óculos é para quem é caolho. Os ósculos é para quem anda beijando.
– Vixe! E o amplexo?!
– Essa é de doer.  
– É a nossa língua e suas armadilhas.
– Armadilha é pouco. Quer ver: diga ao Moacyr que ele é heterossexual...
– Moacyr! – gritou – Descobri que você é heterossexual!
– Heterossexual é o seu pai! Me respeite que eu sou é macho!
– Então você é homossexual?
– Com muito orgulho.
– Tá vendo? – falei – Outra palavrinha cabulosa é defenestrar?
– Essa eu me esqueci.
– Jogar pela janela.
– Ah! Sim. Acho que só Braga, que é oficial da Marinha, sabe.
– Será?
– Pergunte.
– Capitão Braga, quando você estava na Marinha, defenestrou muitos marinheiros?
– Que é isso, rapaz?! Olha o respeito! Na Marinha não tem dessas coisas não! – respondeu o capitão, visivelmente contrariado.

Se ele reagiu assim, imagine o que não poderiam responder os outros clientes que lotavam o bar. Certas palavras vieram ao mundo com o objetivo de arranjar encrenca. Ou deixar margens para outras interpretações. Em Salvador quase acontecia uma tragédia por causa duma má interpretação. Dois recém-conhecidos conversavam e um deles se apresentou como podólogo. O outro retrucou violentamente:

– E você sente orgulho disso?
– Disso o quê?
De ser estuprador de crianças! – e os dois só não chegaram às vias de fato porque alguém resolveu interceder.

Moacyr, meu ex-funcionário, se orgulhava muito de ser pederasta. Alargava um sorriso de satisfação e dizia: “Ando muito a pé”.


     

   

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