Não
quero ser Chapeuzinho Vermelho mais não.
Por
que, filhinha?
Não
gosto que o Lobo Mau me coma.
Mas
o Caçador não vai matar o Lobo?
Vai...
E
não vai tirar você e a Vovozinha da barriga do Lobo?
Não
gosto.
Mas
é só um teatrinho, filha.
Não.
Você
decorou tão bem o seu papel.
Aninha
vai.
Ah,
Aninha vai então substituir você.
Mas
eu vou dizer uma coisa a ela.
O
que assim?
Aninha,
não fale nada com o Lobo Mau, viu?
Mas
ela tem que falar com o Lobo Mau. Na história verdadeira ela conversa com ele.
Mas
ela não vai falar nada!
Tudo
bem, tudo bem. E como é que a história vai prosseguir?
Não
sei.
O
Lobo Mau vai ficar lá, parecendo um pateta: “Aninha, fale, o que é que você
tem?” É isso?
Mãe,
você é tão engraçada.
E o
que é que Aninha vai dizer?
Aninha?
“Ah, seu bobão, você pensa que vou lhe dizer onde a Vovó mora?”
“Não
vai não? Então eu vou lhe comer.”
Mãe
não come filha.
“Eu
não sou mãe. Eu sou Lobo!”
“Ai!
Eu falo.”
“Muito
bem. Como é seu nome, menina?”
“Chapeuzinho
Vermelho.”
Está
vendo? Você interpreta tão bem.
“Lobo
Mau, você está querendo é me enganar.”
Eu,
filha?
(Antonio
Brasileiro – Do livro “O menino no guarda-roupa”)
Não confundam Antonio Brasileiro com Antonio, o Brasileiro, ou com seu xará famoso, Tom, o Jobim, também conhecido por Antonio Brasileiro. Este de que vos falo, agora, é mais competente do que os outros, embora a mídia não divulgue, porque, além de poeta, é nordestino legítimo. Quando Sarney era presidente e ia pro rádio e tevê falar "Brasileeeeiroooo!", ele levantava o braço e gritava feliz para a turma que assistia novela na Praça Senhor dos Passos: "O presidente tá falando di mim!"
Tal qual meu bróder Luís Pimentel, também nasceu num lugar que ninguém sabe onde fica, chamado de Matas do Orobó, e acabou sendo criado nas ruas de Feira de Santana. Só não sei dizer se também foi gandula do Fluminense de Feira, o famoso Touro do Sertão.
Romancista, contista, poeta, artista plástico, membro da Academia de Letras da Bahia, bom de prosa, excelente camarada, ainda encontra tempo em seus contratempos para ser professor, fodido e mal pago, como se diz no linguajar pop da gurizada de Feira de Santana e Alagoinhas.
No mais, é só gozar do prazer de seus textos. Entre numa livraria qualquer e compre um ou dois, ou três, dos seus mais de quinhentos livros. Os livros dele, apesar de não ser da linha editorial da autoajuda, também funcionam assim. Um cidadão no interior do Ceará, descrente da vida, da religião, de Padre Cícero e da política, resolveu se suicidar. Na hora de pôr a termo o gesto fatal, alguém leu pra ele este poema:
CÁLICE
A vida não tem roteiros,
só velas que nos acenam
do mar.
Escuta, amiga,
o desfiar das horas:
elas te dirão é tua
é tua a vida.
Toma-a (como se toma
um cálice de rosas)
na mão.
O suicida deu dois passos atrás e desistiu de morrer. Hoje é um dos maiores leitores do poeta desse lugar chamado Matas do Orobó.
Não confundam Antonio Brasileiro com Antonio, o Brasileiro, ou com seu xará famoso, Tom, o Jobim, também conhecido por Antonio Brasileiro. Este de que vos falo, agora, é mais competente do que os outros, embora a mídia não divulgue, porque, além de poeta, é nordestino legítimo. Quando Sarney era presidente e ia pro rádio e tevê falar "Brasileeeeiroooo!", ele levantava o braço e gritava feliz para a turma que assistia novela na Praça Senhor dos Passos: "O presidente tá falando di mim!"
Tal qual meu bróder Luís Pimentel, também nasceu num lugar que ninguém sabe onde fica, chamado de Matas do Orobó, e acabou sendo criado nas ruas de Feira de Santana. Só não sei dizer se também foi gandula do Fluminense de Feira, o famoso Touro do Sertão.
Romancista, contista, poeta, artista plástico, membro da Academia de Letras da Bahia, bom de prosa, excelente camarada, ainda encontra tempo em seus contratempos para ser professor, fodido e mal pago, como se diz no linguajar pop da gurizada de Feira de Santana e Alagoinhas.
No mais, é só gozar do prazer de seus textos. Entre numa livraria qualquer e compre um ou dois, ou três, dos seus mais de quinhentos livros. Os livros dele, apesar de não ser da linha editorial da autoajuda, também funcionam assim. Um cidadão no interior do Ceará, descrente da vida, da religião, de Padre Cícero e da política, resolveu se suicidar. Na hora de pôr a termo o gesto fatal, alguém leu pra ele este poema:
CÁLICE
A vida não tem roteiros,
só velas que nos acenam
do mar.
Escuta, amiga,
o desfiar das horas:
elas te dirão é tua
é tua a vida.
Toma-a (como se toma
um cálice de rosas)
na mão.
O suicida deu dois passos atrás e desistiu de morrer. Hoje é um dos maiores leitores do poeta desse lugar chamado Matas do Orobó.
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