Para
o meu gosto, das árvores floríferas da Chapada do Corisco, o ipê-branco (Tabebuia roseo-alba) é a mais nobre e a mais bela. Infelizmente, apesar dos
esforços do João Freitas Filho, ainda é inexpressiva a quantidade dessa espécie
em Teresina. Como não existem árvores velhas, tudo faz crer que este variedade
de ipê ainda está em fase de adaptação. Ao contrário do amarelo, perfeitamente
aclimatado à aridez da Chapada, o ipê-branco tem se revelado frágil e
vulnerável. No ano passado, pelos menos cinco ipês morreram sem que se saiba
exatamente a causa. Dos que plantei, dois não vingaram. Um “especialista”
explicou que ocorreu um “estresse climático”. Falta-me autoridade para confirmar ou contestar.
Este ano, para
alegria dos olhos mais atentos, no final de setembro, um ipê-branco, plantado
pelo Dr. Anfrísio Neto no jardim do edifício onde mora, explodiu em flores. Um dilúvio de beleza, diria um poeta medíocre. Uma senhora que
passava pelo local, não se conteve: “Meu Deus, um pé de árvore de Natal!”. Sem
uma folha, o ipê vestiu-se de branco durante uns três dias. Avisado por uma
amiga, fiz uma dezena de fotos e publiquei-as onde pude.
Finda a
florada, tentei falar com o jardineiro do edifício para saber como garantir
alguma das preciosas sementes. Não consegui. Só me restou uma opção: “botar
sentido” na árvore à espera das sementes. Por oportuno, vale lembrar: os
ipês-brancos são meio sovinas. Para minha surpresa, houve também uma explosão
de sementes que foram lançadas prodigamente ao vento. Munido de um saco plástico,
plantei-me na calçada e comecei a garimpagem das sementes que o vento levava
para longe. Em cada semente colhida, eu vislumbrava um ipê embelezando uma nesga
da nossa sofrida cidade. As pessoas passavam, olhavam para se certificar e,
como naquela música do Chico, uns
sorrindo faziam pouco, outros me tomavam
por louco... Indiferente ao rugir dos automóveis, eu catava as sementes com
uma indescritível alegria.
Lá pelas
tantas, passou um conhecido, cidadão de fino trato. Ao me ver agachado na calçada, parou o
automóvel e disparou: “Procurando o quê, professor?”. Sementes
de ipê, respondi. A resposta não lhe pareceu satisfatória: “O que o senhor
vai fazer com elas?”, quis saber. Vou
plantá-las. O cidadão voltou à carga: “Professor, me desculpe a curiosidade,
mas o que o senhor ganha com isso?”. Resolvi bancar o sabido: eu e a cidade ganharemos a possibilidade de
fruir,anualmente, a nossa efêmera ração de beleza. O cidadão sorriu, balançou a
cabeça negativamente e afirmou: “O senhor é um poeta, professor”. Levantou o
vidro do carro e seguiu em frente. Sei não, mas pela forma como ele pronunciou
a palavra “poeta”, tive a impressão de
que não era exatamente um elogio...
Nenhum comentário:
Postar um comentário