Até
1991 só conhecia duas músicas do Reginaldo Rossi, ambas nascidas na Jovem
Guarda: “Mon amour, meu bem, ma femme” e “Tou doidão”. Nesse ano de Nosso Senhor Jesus Cristo, 1991, ainda sendo
perseguido pelo que restou da ditadura militar, fui obrigado a viver na
informalidade. Assim, pulava de galho em galho feito camelô paulista fugindo do
rapa.
Frei
Damião, o santo dos nordestinos e que ajudou a eleger Fernando Collor em várias
eleições, costumava passar o carnaval na Vila São Francisco,
um povoado entre as cidades de Paulo Jacinto e Quebrangulo. Era uma festa com
PH maiúsculo. O lugarejo, com menos de mil habitantes, passava os três dias de
carnaval com mais de quinze mil romeiros à procura do que e com que gastar.
Assim,
achei de tirar proveito da multidão carente de milagres e, principalmente, faminta
de diversão. Montei meu cacete armado no meio da praça. Antes, foi preciso
molhar a mão do auxiliar do santo franciscano, o responsável pela organização
da festa. E não foi pouco não.
Às
vésperas do falapau, me disseram: “Você precisa colocar música de Reginaldo
Rossi, senão não vem ninguém aqui”. E eu perguntei, inocentemente: “E ele tem
mais de duas?” Tinha. Um bocado. E de tanto pedirem para tocar, acabei gostando
de uma, “A raposa e as uvas”, essa que toca no vídeo. Pelo menos era dançante.
Devia ser a preferida nos puteiros da vida.
Reginaldo
Rossi era assim: um doidão. Quando havia briga nos seus shows, ele parava de
cantar e mandava os brigões cheirar calcinha. Certa vez o empresário dele me
levou a um show no Clube Alagoinha e, depois de cantar duas músicas, ele, o Reginaldo, falou
que só continuaria quando recebesse o resto do cachê, em dinheiro vivo, e se
mandou para o camarim. Reapareceu duas horas depois, com a cara cheia de uísque.
No início dos anos 2000 ele foi acolhido pela axé music no carnaval de Salvador,
seu cachê disparou e o cantor dispensou seu fiel escudeiro dos tempos inglórios e
das vacas magras. Antes, o show custava cinco mil reais; depois, passou para trinta.
Que milagre não faz um trio elétrico, né mesmo?
Dois
meses atrás me encontrei com o ex-empresário e ele me disse que o
Reginaldo Rossi vivia a telefonar, querendo se reconciliar. Estava sem
conseguir fazer shows fora de Pernambuco.
Infelizmente
a morte chegou antes do previsto e ele morreu sem conseguir amenizar as mágoas
do ex-amigo.
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