Em São Raimundo Nonato, não havia bibliotecas públicas. Livros, só os
manuais escolares. Foi num deles - o Livro de Português, de Aída Costa
– que descobri a literatura brasileira. Entre outros autores, Gonçalves
Dias, Alencar, Machado de Assis, Viriato Correia, Olavo Bilac, Alphonsus de
Guimaraens (adorável “Ismália”), Vicente de Carvalho, Cruz e Sousa, Bandeira
(ainda simbolista) e Menotti Del Picchia, com seu indefectível “Juca Mulato”...
Modernismo, nada.
Aos 15 anos de idade, eu não tinha lido um único romance. Só folhetos de
cordel, fragmentos de crônicas, sonetos e coisinhas do gênero. Dona Purcina,
com quatro filhos numa escola particular, não podia comprar livros. Um dia, fez
uma extravagância e adquiriu 12 livrinhos: Grandes vultos da história do Brasil.
Escritores, só dois: Castro Alves e Rui Barbosa, se não me trai a memória. Aos
16 anos, li Tarzan na Terra
dos homens, tradução de Monteiro Lobato, e O Guarani, de José de Alencar.
Na minha santa ignorância, os dois personagens (Tarzan e Peri) eram bem
parecidos: viviam no mato e eram imbatíveis...
Mas antes de me tornar leitor, tentei tornar-me cordelista. Aos 12 anos
de idade, instigado por meu irmão mais velho, escrevi umas poucas estrofes de
um folheto denominado O
namoro de hoje em dia. Curiosamente, eu não havia namorado ninguém e nada
sabia de sacanagem. Então, ele entrou com o conteúdo e eu cuidei da
forma. Um folheto a quatro mãos. O trem ficou picante e, empolgado, resolvi
mostrar minha “obra” aos parceiros. Sucesso absoluto.
Alguns copiaram estrofes inteiras. Sucesso e perdição. Dona Purcina
surpreendeu-me lendo aquela versalhada porca e não deixou por menos:
aplicou-me algumas vergastadas com um cipó de marmeleiro e me mandou direto
para o confessionário. Como se pode ver, melhor estreia, impossível.
Foi com essa extraordinária bagagem
cultural que desembarquei em Teresina, em maio de 1965.
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