sexta-feira, 12 de julho de 2013

Maria Helena Bandeira - Rir do rei de Roma

As caricaturas de Maomé se transformaram num rastilho de pólvora através do mundo.

Porque o  riso é a face mais subversiva da humanidade.  O único animal que ri é o único que encara sua mortalidade. Faz sentido.  O homem inventou passado, futuro e descobriu a morte. Vendeu o paraíso pelas lentilhas do conhecimento, Adão de terno e gravata, o rei nu de Roma, o rato roeu sua roupa.

Em nome de deuses ele mata e morre, se leva tão a sério, pobre poeira de estrelas perdido num estúpido dodecaedro entre mil galáxias indiferentes. Somos o que mesmo? Muçulmanos, cristãos, budistas, nossa religião é a intolerância. Só o riso nos salva, reduz tudo ao ridículo necessário, nos livra da importância - é por aqui, ali ou sei lá onde, tem algum lugar sempre melhor do que onde estamos.  O paraíso perdido?

Celebremos Dionísio, carpediemos porque amanhã não existe, ontem foi ilusão e não somos o animal mais perfeito da criação.

O riso nos redime, o bobo da corte salva o rei, diz a verdade escondida, olha de frente o dragão e ele é drag queen. A princesa tem calos, pé chato e chulé. O rei é Momo, é Baco, viva a uva que Ivo nem viu porque estava ocupado ouvindo a vovó. Como nossos pais.

Viva o jogral, o andarilho, o que não tem compromisso com verdades, o alegre destruidor de mitos, o iconoclasta. O que nunca matará por uma ilusão.

Abaixo as damas, os reis, os valetes e os paus. Abaixo as copas (exceto de árvores) os ouros e as espadas.

E viva o coringa que não tem morada fixa, castelo ou religião.


Na mesma máscara negra, hoje é carnaval. 

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