Confesso
que nunca entendi esse negócio de ceia de Natal. E que ceia! Tudo que não tinha
na manjedoura, principalmente queijo do reino, nozes e castanha do Pará. É inconcebível
que em pleno século vinte e um, com um oceano de informações a tempo real, ainda
se confunda esbórnia com festejos cristãos. Ou vice-versa.
O
Natal começou errado pela própria data. Não por um acaso a ladinice bispal escolheu
essa data como o dia da Natividade, vez que tudo aponta ter nascido Jesus em
meados do ano. Maria deu a luz ao retornar do recenseamento romano, o que era
feito no Verão. Como sabemos, dezembro é Inverno nas bandas de lá. E rigoroso.
Com neve, raios, chuvas, trovões, enchentes e atoleiros. O jeguinho que levou a
Santa Madre Santíssima com certeza ficaria atolado na lama. E os três reis
magos não poderiam enxergar a Estrela do Oriente. E os seus camelos também correriam
o risco de atolar.
Na
Roma antiga se comemorava a Saturnália, festa pagã em homenagem ao deus Saturno
e ao fim do ano agrário e o início do ano novo. Era como o nosso réveillon aqui,
e os comes e bebes iam de 17 a 24 de dezembro. Costumavam trocar presentes, não
esses comprados em shoppings centers e pagos com cartão de crédito. Também não
havia amigo secreto, oculto ou seja lá o que seja. Nem confraternização nas bibocas,
cacetes armados ou restaurantes.
O
cristianismo primitivo ignorava a Natividade. Nem sabia se o galo cantou de
madrugada ou se houve reis magos na manjedoura. Segundo o evangelista Matheus,
o encontro dos reis magos se deu na casa de José e Maria, e não no estábulo. E
Jesus devia ter uns dois anos. Isso está registrado no Evangelho de Matheus e
quem duvidar é só procurar na Bíblia.
Em
336 DC a Igreja romana resolveu cunhar a data de nascimento de Jota Cristo para
depois da Saturnália. Era como se fosse a festa da ressaca. Ou o arrastão de
Carlinhos Brown na quarta-feira de cinzas. A reação foi muito grande e a Igreja
romana foi acusada de heresia pelos cristãos orientais por misturar paganismo com
o sagrado. Como não ficou bem na fita, os notáveis de Roma mudaram a data para
seis de janeiro. Em 356, DC, o todo poderoso Bispo Libério, de Roma, fez valer
sua vontade e o Natal passou a ser comemorado no dia 25 de dezembro.
Vale
lembrar que a palavra papa, com o significado de autoridade máxima da Igreja,
surgiu em 1093 por decreto do papa Gregório VII. Antes, essa palavra era usada
para designar todos os bispos ocidentais.
Mas
nada há de me surpreender com a heresia conveniente da Igreja. É como Galvão
Bueno gritando “Vai que é tua, Taffarel!” Valia tudo por um pouco mais de
ibope. A Páscoa cristã foi mudada para coincidir com a festa em homenagem a Baco,
o deus pagão. Por isso a Semana Santa não tem data fixa.
O
pior dos piores, o pesar dos pesares, foi o título pagão dado aos imperadores e
que o papado surrupiou no Século VI: Pontifex Maximus. Ou, no nosso linguajar,
sumo pontífice, o construtor de pontes entre os deuses e o homem. Era assim que
os romanos pagãos viam o imperador. E é assim que vemos o papa como cristãos.
Quanta heresia disfarçada de sagrado, né mesmo? Não foi à toa que Jesus Cristo,
em seu último suspiro, clamor aos Céus:
-
Ó, pai, perdoai-lhes. Eles não sabem o que fazem.
Ou algo assim.
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Ou algo assim.
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