terça-feira, 31 de março de 2009
A Nova Versão da Paixão de Cristo
quinta-feira, 26 de março de 2009
OS SABORES E OS AMORES

O CONTADOR E O CONTADOR DE ESTÓRIAS
Paraíso é um lugar fictício, mas pode ser qualquer cidade do interior do Nordeste, com seus causos e seus casos, suas crenças e crendices, vultos e aparições. Mulher menstruada não se depila, mulher parida não come farinha do mesmo dia e os umbigos das crianças são enterrados nos currais de gado para proteger os rebentos contra as investidas do filho do Malfazejo. O delegado e o prefeito formam o topo da pirâmide social, seguido do soldado de polícia e do cobrador de ônibus; o primeiro, responsável por manter a ordem dentro da ordem e o segundo, é o Hermes dos sertanejos, levando e trazendo mensagens e abarrotando a mala dos ônibus de todo tipo de bagagem. Houve cobrador que conseguiu a façanha de colocar um jumento no bagageiro do ônibus.
Quando Luiz Eudes pisou o chão de Paraíso, trazendo na mala um canudo de contabilista, mal sabia ele que estava escrevendo certo por linhas tortas, ou seja, que a profissão de contador de números reais e absolutos das empresas, daria lugar a um outro tipo de contador, o de estória, onde a lógica fria dos algarismos seria substituída pela fertilidade criativa de contar seus contos sem aumentar um ponto. Paulista de nascimento, e nordestino por devoção, cedo se encantou por Paraíso, fonte inesgotável de inspiração. Observando e absorvendo o modo e os costumes do povo paraiense, ele condensou uma coletânea de casos e causos nas páginas deste livro, em texto leve e bem-humorado, levando o leitor a rebuscar suas raízes rurais no imaginário de A Curva e a Montanha, em uma viagem surreal, cuja paisagem mostrada na janela do inconsciente, expõe singularmente a alma simplória e inocente do sertanejo.
São vinte e dois belíssimos contos selecionados pelo autor, predominando as estórias de cidade de interior, onde a urbe se confunde com a zona rural, e os personagens, apesar de não vestirem a carapuça do jeca, têm um comportamento peculiar ao que nós chamamos de tabaréus da roça, o nosso jeca, com suas crenças e descrenças, e uma estranha fobia de banhar-se em águas limpas, medo esse, herdado de nossos ancestrais portugueses, cuja tradução desse fato encontra-se deliciosamente relatado no conto “A Morte Mal Anunciada”.
Ao final da leitura, nossa alma caipira sente-se recompensada pela singeleza textual com que Luiz Eudes nos brinda ao narrar os casos e causos que povoam o imaginário popular do sertão nordestino, nas belíssimas e românticas noites de lua cheia.
quarta-feira, 11 de março de 2009
O DIA DA PADROEIRA
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De Procissão |
Aquele que se criou no sertão e não teve sua iniciação sexual com uma jega, cabra ou galinha, não pode dizer que teve infância. E aquele que nunca brigou quando menino, certamente nasceu um maricas.
Zé Bentinho fez tudo isso quando criança. E fez pior, pois contava com o apoio incondicional do pai. Não havia jega nas redondezas que não suspendesse o rabo quando de longe lhe avistasse; não havia cabra que, sentindo sua presença, não se encostasse ao barranco e berrasse: zéééééééé! Não existia criança naquele lugar que com ele não houvesse emendado os bigodes. Não fazia distinção de idade nem de físico, desde que fosse do seu tope, o desafeto.
Nenzão, seu irmão mais velho, de comportamento tímido e pacífico, muitas vezes se viu envolvido em confusão por causa do arreliento do Zé Bentinho. Em casa, nunca começaram uma brincadeira para que não terminassem se engalfinhando. Tonho Fiscal, pai dos dois pirralhos e fiscal da prefeitura, castigava Nenzão e premiava Zé Bentinho com um pirulito, por achar que, no sertão, homem que é homem não leva desaforo para casa.
- É de criança que se faz homem e filho meu tem que ser é macho! – dizia taxativo, quando alguma mãe chorosa ia à prefeitura reclamar do Zé Bentinho.
Nem todos na família concordavam com as diabruras do pirralho. O seu avô paterno, homem íntegro, achava que o seu neto estava mais para um moleque malcriado do que para um homem de respeito. “Homem para ser homem tem que ser respeitador!”, afirmava, quando o assunto era o seu neto e a educação recebida do pai. Muitas e muitas vezes entrara em atrito com o seu filho, Tonho Fiscal, por causa das molecagens do neto. E descia a madeira em Zé Bentinho quando o mesmo extrapolava as suas molecagens e o seu filho não tomava nenhuma atitude.
Eduardo de França podia se chamar Eduardinho, mas ganhou o apelido de Dudu Pareia graças a sua mania de chamar os colegas de “pareia”. Era um menino de comportamento discreto, porém, depois que se meteu com Zé Bentinho, passou a fazer parte do ditado que diz que “passarinho que acompanha morcego dorme de cabeça para baixo”. Não era arreliento nem malcriado como Zé Bentinho, mas costumava seguir o amigo nas safadezas. Dizia-se que fazia por medo. Pai morto em um desastre de automóvel, fora criado pelo avô, um sertanejo rígido na educação moral e dos bons costumes.
Zebedeu, dono da jega mais cobiçada pela molecada, e até por alguns adultos de Lagoa Azul, trazia sob severa vigilância o seu mais querido e mais sagrado animal todas as vezes que se via obrigado a sair de sua roça para ir à cidade comprar ou vender alguma coisa. Considerava uma terra de depravados, a Sodoma do Antigo Testamento, um antro de marginais e tarados. Porém ninguém haveria de fazer um malfeito com a sua inestimável jeguinha. Que os moleques vadios procurassem outro animal em outro pasto. O dele não, violão!
Comentava-se, à boca pequena, que Zebedeu mantinha um intenso caso de amor com sua protegida. Sentia mais ciúmes de seu animal do que de sua ex-noiva. Desmanchara o casamento pelo simples fato de ela esporar a jega em um raro dia em que ele a deixou praticar montaria e sair a trote pasto afora. Que triste dia! Só não meteu a mão na cara da noiva porque foi contido por um soco, dado pelo sogro, que mais lhe pareceu um coice. Foi o fim de um noivado de seis anos. E de uma amizade de vinte.
Um dia, dia de festa da Padroeira de Lagoa Azul, Zebedeu relaxou na vigilância. Sendo católico apostólico romano, fervoroso devoto da padroeira, acreditava que ninguém ousaria contrariar o ato sagrado da procissão em atitudes vis e pecaminosas. O belzebu queimaria no fogo do Inferno!
Zé Bentinho encontrou o seu amigo Dudu Pareia no justo momento em que descobriu Zebedeu no meio da multidão sem a sua companheira. Escapuliram de mansinho, entraram em um beco, saíram em uma rua deserta e avistaram a jega mais desejada do sertão pastando tranqüilamente em um terreno baldio. Olharam para os lados para ter certeza de que não foram seguidos, puxaram a jumenta pelo cabresto e se enfiaram numa casa abandonada.
Mal podiam acreditar no que estavam fazendo, mas estavam. A emoção era muito grande, enorme, deixando o coração num pulsar acelerado. Quando o feito heróico tivesse se espalhado, seriam considerados os maiorais do sertão. Ganhariam respeito. Teriam lucros imensuráveis: muitos lhes pagariam caro para que contassem a saga. Talvez virassem personagens de cordel, sendo cantados caatinga afora, pelos mais intrépidos violeiros:
Vou contar para vocês
Tudo o que aconteceu
Na proeza de Zé Bentinho
E a mimosa de Zebedeu
Deflorada na casa velha
Do finado Zé do Iguassu
No sagrado dia do jubileu
Da padroeira de Lagoa Azul.
Acompanhado do amigo Dudu
Seu escudeiro de plantão
Levaram o animal para a casa
Povoada de assombração
Consumando o ato depravado
Com a mais cobiçada do sertão.
Coube a Dudu Pareia a honra de ser o primeiro na disputa do par ou ímpar. E foi. Zé Bentinho ficou segurando o cabresto enquanto o seu amigo aliviava as tensões. Havia um misto de prazer e medo. Foi rápido, ejaculação precoce. Era a vez de Zé Bentinho, que mal continha a emoção; preparou-se lentamente para consumar o ato supremo da zoofilia. A jega era mais alta. Procurou alguma coisa para subir e encontrou uma cadeira velha. Era magro, leve, agüentaria seu peso. Subiu na cadeira e levantou o rabo da jega. Ela deu um passo para o lado. Desceu e se reposicionou, pedindo a Dudu para segurá-la com mais firmeza. Dudu obedeceu e ela aquiesceu. Os animais, nem mesmo as jegas, têm noção de fidelidade. Traição é coisa de ser humano. Zé Bentinho suspendeu o rabo e engatilhou o seu órgão sexual no justo instante em que adentraram a casa os dois avôs e o traído Zebedeu.
domingo, 8 de março de 2009
ILUSÕES DESNUDAS - RESENHA

Ilusões desnudas – Ronaldo Torres.
*Maria Olímpia Alves de Melo
Conheci Ronaldo Torres aqui, no Recanto das Letras, e logo nos tornamos amigos. A empatia foi natural e passamos a ser leitores um do outro. E agora, feliz como se fosse meu, recebo o livro impresso do Ronaldo: Ilusões Desnudas. Editado pela CBJE (Câmara Brasileira dos Jovens Escritores), o livro é lindo. É um livro: você pode cheirá-lo e acariciá-lo antes de abrir e começar a ler. E depois, seguir o conselho que veio impresso na orelha: ‘.. leitura perfeita para um final de tarde, deitado numa rede, ouvindo o canto dos passarinhos e o balançar dos galhos das árvores ao sabor da brisa suave (Luiz Eudes Cruz de Andrade). Tirando fora a rede, com a qual nunca me acostumei, foi o que fiz. Na verdade, reli. Lá fora, entrando pela janela do meu quarto, além dos passarinhos, um cão latindo. Tarde perfeita.
Ronaldo, a quem todos chamam de Tom, é um escritor completo: Escreve contos, crônicas, poemas e o que mais lhe aprouver, porque sabe do mister, o segredo. Dele tive a audácia de resenhar um conto, publicado aqui, em capítulos: O homem que pensou ser Deus. E audácia maior, aceitar o convite para escrever a contra capa do livro. O que fiz com carinho. E de audácia em audácia faço esta resenha para apresentar a vocês o livro do meu amigo.
Seus escritos ora são ternos e suaves, ora irônicos e bem humorados. Busca inspiração dentro da própria vida e recupera as lembranças do Junco, onde passou a infância, tempo que o marcou para sempre. E o marcou tanto que considera ter sido esta a sua sorte maior:
A minha sorte maior
foi ter nascido poeta
na centro da caatinga
do Sertão brasileiro (...).
Sua memória, porém vai mais longe, buscando o poema nos arquétipos distantes encontrados no folclore e na mitologia. Canta a chuva e a noite procurando na insônia e no sonho registro para a sua alegria e sua dor. Sabe usar a palavra em jogos sutis e ritmados. O poema que dá título ao livro joga ao chão a ilusão humana de ser mais do que é, desnudando o homem em sua pretensão de ser o que não é. Começou o poema, Carta aberta a uma entidade falida, com o verso antológico: não te aborreças se um dia eu falar de saudades. E sintam a beleza da última estrofe do amargurado Rotina:
Os passos lentos,
cautelosos,
preguiçosos,
vagarosos,
saúdam a rotina
do recomeçar:
- Bom dia, patrão!
A capa do livro é de Allan Oliveira. Engrenagens monocromáticas em vermelho, o título em negro refletido como em um espelho, em branco. Muito bonita. Em uma página em branco, a dedicatória: Para Edna (Edna Lopes, também minha amiga e companheira no Recanto), Flávia, Cláudia, Ivo e Vinicius, e para os netos Bia e Gabriel.
Não sei o preço do livro. Ganhei. Mas, se não tivesse ganhado, teria comprado. Por qualquer preço. Para ter sempre em mãos, comigo, os versos de um amigo realmente talentoso.
* Escritora mineira e, aos domingos, cozinheira. Mais sobre a autora pode-se encontrar clicando no link abaixo:
http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=27042
sábado, 7 de março de 2009
Deu No Jornal CALILA NOTÍCIAS, de Conceição do Coité
(Copiado do jornal on line www.calilanotícias.com) [Removidas as imagens de violência]
03/03/2009 10:56:28
CALILA NOTÍCIAS
População de Sátiro Dias vive com medo
Um novo delegado foi designado para tentar conter a onda de violência que assusta os moradores
Quem vive em Sátiro Dias (BA), vive com medo. "A violência está demais. Um absurdo! Do jeito que está não dá não", reclama uma moça. "É crime, é muito crime em Sátiro Dias", enfatiza um rapaz. "É violência demais", resume outra moça. Todos com medo não quiseram se identificar.
A última ocorrência foi no domingo á noite (01/03) quando um lavrador foi encontrado morto com requinte de crueldade - Esmeraldo Oliveira da Costa, 47 anos, residente na Fazenda Varões, 08 km da sede, foi encontrado morto em uma estrada vicinal, próximo da comunidade onde mora.
Estava semi-nu, com a orelha dilacerada, a princípio por dentada, em um ambiente como houvesse luta corporal e próximo ao corpo, um par de sapatos, outros de sandálias, dois litros de aguardente e uma bicicleta ranger.
As primeiras informações que teria morrido de traumatismo craneano, com um corte a altura do pescoço. Esta confirmação está sendo aguardada pela policia depois dos resultados dos exames efetuados no IML de Alagoinhas.
Para Raimundo Oliveira da Costa, 37 anos, irmão de Esmeraldo Oliveira, conhecido por Lauro, garante que a bicicleta encontrada perto do corpo, não é do irmão. "Ele tem uma monark antiga e toda quebrada, que deixou no bar Antonio de Bela". Não sabe sobre os sapatos e as sandálias.
Lauro saiu de casa ás 15h de domingo, segundo Matilde Oliveira da Costa, 76 anos, mãe da vitima. Na casa de Dona Matilde, morava ela, o filho e um neto. "Quando ele saiu de casa, disse que voltava logo, pois ia trocar a roupa e ir para rua (cidade). Esperei e nada. Escureceu e só hoje (segunda-feira), fiquei sabendo do ocorrido" lamenta.
A aposentada confirmou a informação que a bicicleta de Lauro ficou no Bar de Antonio de Bela, na fazenda Riachão. Disse que a encontrada era do companheiro dele conhecido com Valderino, filho do finado Antonio de Ana, que é primo dele e "eu acredito que não faria mal a meu filho", lamenta mais uma vez.
Dona Matilde garante que "Lauro saiu de sandália, portanto o sapato é do companheiro". Enquanto o repórter Valdemi de Assis conversava com a mãe da vitima, um lavrador que não quis se identificar, afirmava que conversou com a esposa de Valderino e na versão contada pro ele, os dois quando voltavam, para casa sofreram uma tentativa de assalto.
O marido fugiu e Lauro lutou com os ladrões. "Ela disse que depois disso, ele não sabe mais nada".
Procurado, Valdemiro não foi encontrado, pois estava trabalhando em uma roça longe de casa, falou uma vizinha que não viu ele durante o dia.
Até ás 18h de segunda-feira, a delegacia não tinha registrado o fato e a vitima era desconhecida. O corpo foi neclopciado no IML de Alagoinhas e sepultado na terça-feira (03), em Sátiro Dias.
Sátiro Dias, distante 90 km de Conceição do Coité, situa-se no litoral norte baiano, nordeste da micro-região de Alagoinhas, fazendo divisa, ao norte, com Tucano, Nova Soure e Olindina; ao sul, com Água Fria e Inhambupe; ao leste, com Olindina e Inhambupe e a oeste com Biritinga e Araci, sendo que seu principal acesso se dá pela BA-233, que liga a sede do município à BR-110, ao norte de Inhambupe.
A cidade vem vivendo nos últimos meses um clima de muita insegurança, com assaltos, assim como a presença de usuários de drogas.
A comunidade teme o crescimento desenfreado da violência. ‘Temos além do homicidio de domingo, várias histórias de assaltos e agressões que ocorreram nos últimos dias, a exemplo do assalto ao Bar do Sr. José Alves da Costa, residente no Povoado de Jurema, a 10 km da cidade. Esta violência esta acontecendo na zona rural e na zona urbana’, disse a estudante Ana Paula Santos, 22 anos, moradora no povoado de Bela Vista.
Uma equipe do CN, integrada pelo repórter Valdemi de Assis e o fotografo Raimundo Mascarenhas, estiveram segunda-feira (02), na cidade, e encontrou José Alves da Costa, 50 anos, comerciante na comunidade de Jurema, ele estava na delegacia pra prestar queixa do assalto que sofreu e foi atingido por dois tiros.
Contou ao CN que na quinta-feira (26), por volta das 19h, estava com quatro clientes no bar, quando três homens chegaram atirando e anunciando o assalto. "Foi uma verdadeira agonia. Fui logo ferido no braço, os clientes deitaram no chão, os bandidos demonstravam muito nervosos, eles fugiram levando apenas um facão. Insatisfeito, eles voltaram atirar em mim, ferindo na perna", conta o comerciante. " Eram escuros, baixos, média de 27 anos", concluiu Zé Alves.
Município com pouco mais de vinte mil habitantes, cerca de 700 Km². Além da sede, tem dois povoados de médio porto, Mimoso e Bela Vista, ambas com população estimada entre 1.500 a 2000 habitantes, chegou a ter um efetivo de cinco policiais militares diariamente por guarnição, hoje apenas dois, sob o comando do Tenente Lima. Na Policia Civil, além do delegado Luiz Filgeurias, o município tem dois agentes, que revezam plantão a cada sete dias. É comarca de primeira entrância presidida pelo juiz Marcos Vinicius e no ministério público, o promotor substituto João Paulo, titular de Olindina.
Delegado assumiu há trinta dias - Luiz Filgueiras, assumiu a um mês delegacia, vindo de Crisópoles, onde ainda responde até que chegue o substituto, sabia, antes de assumir, a onda de violência que o município estava vivendo, "não ao ponto de ser nada preocupante", disse.
Sabia de alguns furtos, assalto aos idosos no começo do mês, período de pagamento aos aposentados. Ele disse que encontrou alguns registros de ocorrências e estão sendo investigados, inclusive, como base em uma linha de raciocínio, estão sendo identificados e logos serão presos. "São casos que tem haver um com outro e outros, casos isolados", falou Filgueiras.
"Nossa dificuldade é estrutural, falta de policiamento e a população que não colabora com informações" desabafa.
O delegado acredita que possa trabalhar com mais rapidez, pois o juiz Marcos Vinicius que estava afastado por problemas de saúde, retornou as atividades na segunda-feira
(02) e “com relação a alguns pedidos de prisão solicitados pela delegada anterior estão sem analisar e agora acredito que estão na pauta e vão andar”, desabafa.
Cidade não tem muita droga - Com referencia as drogas, o delegado tranqüiliza que não é grande volume. "Existem alguns usuários, desconheço ponto de vendas, mais faremos um trabalho que ela não se alastre", garante.
Dr. Filgueira não descarta a hipóteses destes roubos que estão acontecendo no município tenham, a haver com os usuários de drogas, que roubam para comprar o produto.
Prefeito assumiu o município com muitos problemas - Joaquim Neto (PR) reconhece que recebeu o município com muitos problemas, em todas as áreas. Os carros não funcionavam, um divida assustadora com INSS, escolas necessitando de reformas e a segurança, um problema emergencial. O prefeito vai reformular a guarda municipal, equipando e dando melhores condições de trabalho. Esteve reunido na tarde de segunda-feira com o delegado e esta marcando uma audiência com o secretário de segurança pública para reivindicar o aumento do efetivo, tanto na Policia Militar, quanto a Civil.
"Peço paciência, pois a situação que encontramos a Prefeitura foi desastrosa, mais iremos enfrentar o problema de segurança de frente e sei que vou contar com o Governo", declarou Joaquim.
Por: Valdemí de Assis. Fotos: Raimundo Mascarenhas e Foto Santo Antonio
quarta-feira, 4 de março de 2009
DIA INTERNACIONAL DA MULHER I

Hoje é moleza ser feminista, segurar o mastro da bandeira nas passeatas com algumas reivindicações justas e legítimas, como o direito amplo e irrestrito ao orgasmo contínuo e múltiplo; algumas reivindicam demandas infundadas e absurdas, como a divisão das tarefas domésticas com os homens. Outras bandeiras denotam certo desprezo pela Criação e desfraldam um radicalismo exacerbado, lembrando os antigos camaradas xiitas do PT, na tentativa de moldar o mundo segundo suas convicções político-dogmáticas: simplesmente querem inverter a posição na cama, e o ativo passa a ser o passivo, seguindo o princípio oracional de São Francisco: é melhor dar do que receber.
Devagar com o andor que o santo é de barro. Voltando aos tempos do poder patriarcal dos senhores de engenho ou dos barões do café, as ditas feministas de hoje vacilariam frente a esses senhores que dominavam a economia, a política, a cultura, a vida e a alma dos brasileiros e que se casavam apenas para ter uma mulher para dar porrada, fazer filhos e tomar conta das mucamas. Eles podiam tudo, inclusive estuprar e matar as metidas a feministas.
Em 1789, tomada pelos ventos libertários, a Assembléia Nacional francesa aprovou a Declaração dos Direitos do Homem. Em 1791, embalada pelo lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” cravado na bandeira do ideário revolucionário, a escritora francesa Marie Olympe Gouze (Olympe de Gouges) lançou também o seu manifesto “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”. Pegos de calças-curtas, os nobres revolucionários acharam tal manifesto uma afronta à moral e aos bons costumes. Que significava aquilo? Revolução das calcinhas dentro da grande revolução dos cuecões? Lugar de mulher era na cozinha e assim deveria continuar. Quem lavaria a louça? Quem trataria do javali antes de ir à panela?
Olympe de Gourges, a primeira feminista da história, foi a julgamento em um tribunal predominantemente machista. O circo estava armado e ela foi condenada à pena capital, sob a acusação de “ter querido ser um homem de Estado e ter esquecido as virtudes próprias do seu sexo.” Foi guilhotinada em 1793 sem que nenhuma outra mulher tenha saído em sua defesa.
Desta maneira, ó simpáticas feministas burocráticas enclausuradas em amplas salas refrigeradas deste imenso gigante adormecido, dêem-me notícias das 129 tecelãs de Nova Iorque, vítimas da arrogância e da prepotência do poder econômico! Vós, que colocais o termostato do condicionador de ar no máximo para poder vestir o casaco de vison, talvez não saibais que o 8 de março não foi escolhido aleatoriamente para ser o dia internacional da mulher, apesar de que, neste solo pátrio, todo dia é dia de luta da mulher para ocupar um lugar ao sol. Saibam, ilustres senhoras, que esta data foi escrita com sangue e fogo.
No dia 8 de março de 1857, 129 tecelãs
Em 1910, na II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, realizada na Dinamarca, a alemã Clara Zetkin propôs o dia oito de março como o dia Internacional da Mulher, em homenagem àquelas 129 mártires de Nova Iorque. A proposta foi aceita e nesse dia as mulheres do mundo todo se dão as mãos em busca de fortificar o movimento feminista, propondo o fim da hegemonia político-econômico-administrativa masculina, seguindo o lema dos compositores mineiros Beto Guedes e Ronaldo Bastos quando dizem “Vamos precisar de todo mundo / um mais um é sempre mais que dois”, se bem que esses versos foram escritos bem depois, o que não invalida o grito de guerra “Mulheres / unidas / jamais serão vencidas!” que encerrou a II Conferência na Dinamarca.
Proposições justas, por sinal, porém o movimento reivindicatório esbarra na própria instabilidade da vaidade feminina quando passa batom nos lábios frente a um espelho, no dia seguinte, e nos 364 que se sucedem até o próximo 8 de março; elas (as feministas e não as mulheres em si) são incapazes de se olhar fraternalmente como companheiras de luta e seguir um propósito comum; em vez disso, engalfinham-se feito onças-de-unhas-pintadas disputando um território selvagem, inaptas em abraçar a causa libertária e tornar suas reivindicações numa bandeira ideológica permanente.
Fala mais alto a vaidade histórica e cada uma mira-se no espelho com a desconfiança aguda de quem encara uma rival.
terça-feira, 3 de março de 2009
O arraial do Junco e a violência urbana

A primeira vez que ouvi falar em maconha foi nos preparativos de mudança do arraial do Junco para Alagoinhas. O povo falava à minha mãe para ter muito cuidado com a cidade onde se dizia que a maconha rolava solta e os assaltos eram useiros e vezeiros por causa da erva maldita.
Entretanto essas conversas ao pé do fogão a lenha eram totalmente equivocadas sobre o uso da cannabis sativa. Diziam que os meliantes fumavam a maconha para fazer o povo dormir e assim eles tinham livre acesso ao patrimônio alheio. O medo de então não era o de ver os filhos enveredar pelo mundo devastador da dependência química, mas pelo simples fato de se ser roubado devido ao “boa noite, Cinderela” supostamente contido na maconha.
Eram os tempos da inocência plena. A violência no arraial do Junco limitava-se apenas a alguma briga de bêbado às segundas-feiras, dia de feira. Eram brigas verbais e raramente se chegava às vias de fato. Dos presos e perturbadores da ordem pública, o único que me lembro foi um batedor de carteira que apareceu por ocasião da festa da Padroeira. Pego no flagrante, levou tantos bolos do delegado João Vieira que, anos depois, devia chorar quando se lembrava da surra. Como naqueles tempos não havia direitos humanos, o infeliz foi exibido na festa como um troféu do delegado.
Outro preso de destaque foi um motorista da Petrobrás que buzinou o carro ao passar por um cavaleiro na Ladeira do Cruzeiro. O cavalo se assustou, empinou e derrubou seu montador. Nada teria acontecido se o dito cavaleiro não fosse o delegado da cidade, que, mais tarde, deu voz de prisão ao petroleiro para ele aprender a não sair buzinando a torto e a direito. O infeliz passou dois dias preso, porém não apanhou como o batedor de carteira.
Curiosamente nos anos oitenta um rapazinho roubou um cavalo na roça e foi vender na feira. Teve o azar de oferecer ao próprio dono do cavalo que, surpreso, chamou a polícia.
Bons tempos aqueles em que se comprava fiado em qualquer bodega. Depois veio a modernidade, os supermercados, a televisão, as parabólicas e, com eles, a corrupção, a ladroagem política, a favelização e a miséria passou a rondar a periferia da cidade. As verbas públicas tiveram destinações privadas, o desvio de função pública se tornou dever de ofício, o povo aprendeu a trocar o voto por migalhas e o que se vê, hoje, é uma cidade sitiada pelo medo da violência e pelo terror das drogas. Do ano passado para cá, oito pessoas morreram vítimas da violência bestializada, gratuita, onde até um velhinho foi assassinado a golpes de machado para ter sua aposentadoria roubada. Ora pois, o que seria o sossego da velhice, está sendo o objeto do medo.
O arraial do Junco, que figura na rabada do IDH, se tornou a terra do sem porvir risonho: governos corruptos e impunes, desemprego crônico, jovens sem perspectivas no futuro, velhos desassistidos e crianças sem ocupação lúdica. Como diz o velho ditado: “Mente vazia é oficina do Diabo”. Quem elege o corrupto pensando tirar proveito, se esquece que está deixando atrás de si uma hoste de miseráveis. E a miséria conduz à violência. E a violência é sinônima de dor. E a dor não tem cor, ideologia ou status social. O corrompido um dia tornar-se-á vítima de sua própria esperteza.
Sumiram com as verbas da habitação popular e teve gente que achou interessante, pois era mais um novo-rico que surgia do nada, como aconteceu nos últimos tempos. Isso gerou o processo de favelização da cidade e a conseqüente degradação moral, com o tráfico de drogas rolando solto a desafiar a Lei e a Ordem. Antes do carnaval mataram um; essa semana que passou, dois. E assim caminhamos para a banalização da violência e a perda total da capacidade de indignação até o dia em que, ao abrirmos a porta da casa, esteja lá um corpo estendido na calçada apontando seu dedo frio e rígido como a dizer que poderemos ser o próximo da lista.