quinta-feira, 9 de julho de 2009

Títulos, inícios e finais de romances memoráveis.




Por Antônio Torres

Texto apresentado nas oficinas literárias Para gostar de ler (e escrever) romance, realizadas na Casa do Saber do Rio de Janeiro às terças-feiras de julho de 2009.


Imagem: www.adventistadapromessa.com.br/dijap/Palavra...


1.


Não soaria estranho, ou desnecessário, dizermos hoje que o primeiro romance moderno da literatura universal foi O Engenhoso Fidalgo D. Quixote da Mancha? Quatro séculos depois de vir ao mundo, o título de Cervantes consagrou-se de forma simplificada. Dom Quixote e pronto. Por mais (vá lá) engenhosa que tenha sido a criação original, a criatura dispensou o toque criativo do seu criador. E passou a cavalgar com suas próprias pernas através do tempo, vindo a ser memorizado sucintamente, de estalo. E mais: o emblemático Dom Quixote acabou sendo dicionarizado como um substantivo do qual derivaram alguns adjetivos. Assim:


Quixote 1. Aquele que age como Dom Quixote. 2. Pessoa sonhadora, ingênua, romântica.

Quixotesco 1. Que diz respeito a Dom Quixote, próprio ou característico de Dom Quixote. 2. Relativo a Quixote ou que envolve quixotada. 3. Fig. Diz-se do que ou de quem é generosamente impulsivo, sonhador, romântico.

Quixotismo 1. Comportamento próprio de ou semelhante ao de Dom Quixote. 2. Modo quixotesco de sentir ou agir. 3. Fanfarronice, bazófia.


Nem sempre títulos criativos se tornam memoráveis. Por exemplo: “O coração é um caçador solitário”, de Carson McCullers. Bonito, não? O romance rendeu um filme igualmente emocionante. Alguém aqui se lembra?


Vivo dizendo: “Meu reino por um título!” Umzinho assim: “Em busca do tempo perdido”, “Neste lado do paraíso”, “Suave é a noite”, “Reflexos num olho dourado”, “Balada do café triste”, “O som e a fúria” – este sacado por William Faulkner a partir de uma fala escrita por Shakespeare para Macbeth “É (a vida) uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, significando nada”. Outros de Faulkner que me encantam: “Enquanto agonizo”, “Luz em agosto”. Um tal de Dee Brown saiu-se com este: “Enterrem meu coração na curva do Rio”. Só matando esse cara. Os que mais me humilham: “Memórias póstumas de Brás Cubas”, “Grande sertão: veredas”, “Cem anos de solidão”, “Jornada de um imbecil até o entendimento” (Plínio Marcos), que parece parafrasear o célebre “Jornada de um dia para dentro da noite” (Eugene O’Neill). Um caso curioso: Graciliano Ramos deu ao que se tornaria mais lembrado de seus livros o seguinte título: “O mundo coberto de penas”. Foi o editor Augusto Frederico Schimit quem sugeriu que ele o trocasse para... “Vidas secas!” Este foi na mosca. Um título que não sai dos meus ouvidos: “Um país, o coração”, do poeta gaúcho Carlos Nejar. Outro: “A República dos sonhos”, de Nélida Piñon.


Alguém aqui ficaria com inveja dos autores de títulos como “Hamlet”, “Madame Bovary”, “O vermelho e o negro”, “Crime e Castigo”, “Anna Kariênina”, “Dom Casmurro”, “Ulisses”? Agora, roamos-nos.


Em casos assim, foram as obras que fizeram os títulos.


À parte isso, quais os ingredientes de um titulo genial?


Originalidade, significação, abrangência, ritmo, cadência, imprevisibilidade. O título surpreendente, que mata a pau, é um golpe de mestre. E um golpe de sorte, claro.


2.

Criar e coçar é só começar?


“No meio do caminho da vida, tendo perdido o caminho verdadeiro, achei-me embrenhado em selva tenebrosa”.


Em seu livro “E a história começa – dez brilhantes inícios de clássicos da literatura”, Amós Oz cita a primeira frase de “O Inferno” de Dante como possibilidade de um exemplo padrão para todas as histórias, argumentando que “No meio do caminho da vida” é, mais ou menos, onde todas as histórias começam.


“Então – ele prossegue -, você se senta e se pergunta o que deveria vir primeiro; como chegar a esse début do meio do caminho? Sentando-se. Rabiscando a página. Amassando-a. Jogando-a fora. Rabiscando a página seguinte: formas, flores, triângulos, losangos, uma casa com uma pequenina chaminé, um gato pelado. Amassando outra vez. Jogando fora. [...] Na verdade, isso acontece o tempo todo, não apenas com romancistas, mas com todos os que escrevem o que quer que seja”.


“É a espera” – assim começa “Os desencantados”, romance de Budd Schulberg baseado na relação de um jovem roteirista de Hollywood, aspirante a escritor, com uma estrela cadente da literatura norte-americana, facilmente identificável como Scott Fitzgerald. O que o narrador/personagem dessa história esperava? Talvez uma idéia salvadora para o roteiro de um filme que não estava conseguindo escrever.


Não foram poucas as vezes em que Clarice Lispector se viu diante de uma máquina de escrever se dizendo: “É a espera”. Ela achava que não havia outro jeito de começar, senão esperando, esperando, esperando, até que a primeira frase caísse em seu colo. Como se, enquanto você espera, seu subconsciente trabalha a seu favor.


Mas ora, o que conta é o começo salvador que baixa nas teclas como num passe de mágica, com o poder de fazer com que se leia o romance e dele nunca se esqueça, como aconteceu com este leitor quando, ainda na adolescência, bateu os olhos na primeira página do “Dom Casmurro” e levou um choque. Foi no momento em que Bentinho confabulava sobre o passageiro ao seu lado no bonde de volta para casa. A frase: “conhecia-o de vista e de chapéu”. Isto não provocara apenas um grande impacto no jovem leitor. Parecera-lhe uma verdadeira aula de texto literário, por seu modo de dizer tão diferente do que ele estava acostumado a ouvir. E onde estava a diferença: na linguagem e estilo desconcertantes de que aquela frase era apenas um começo.


Do “Dom Casmurro” e sua Capitu passemos a “Anna Kariênina”:


“Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”.


De cara, já adivinhamos a trama que desfolha todos os lençóis da história secreta de uma nação, no caso, a Rússia do século 19. A partir de um caso de adultério, Tolstoi pôs todo aquele século num romance que recentemente ganhou no Brasil uma tradução à altura, feita pelo caro romancista e contista Rubens Figueiredo, em primorosa edição da Cosac Naify.


- Suba, Kinch! Suba, seu jesuíta execrável!


O leitor aqui voltaria a se lembrar desta fala do começo do “Ulisses” ao fazer suas pesquisas sobre o Rio de Janeiro do século 16, para escrever o romance “Meu Querido Canibal”, e se deparar com o papel ambíguo dos jesuítas no Brasil, ao tempo da colonização portuguesa. Sobretudo o do padre José de Anchieta que, em selvas e águas de som, sonho e fúria, agia com um rosário numa mão e uma espada na outra, atuando, ao mesmo tempo, a serviço de Deus, para catequizar os silvícolas, e do rei de Portugal, ao consentir que fossem exterminados, em caso de resistência à sua catequese.


- Suba, Kinch! Suba, seu jesuíta execrável!


Conheceria James Joyce a história do José do Brasil?


De Joyce a Faulkner, em “Intruder in the dust” (“O intruso”, no Brasil, ou “O mundo não perdoa”, em Portugal):


“Era precisamente meio-dia nesse domingo quando o xerife chegou à cadeia com o Lucas Beauchamp embora toda a cidade (e todo o concelho, para falar a verdade) já soubesse desde a véspera à noite que o Lucas matara um branco”.


“O rapaz estava lá, à espera. Fora o primeiro a chegar e estava preguiçosamente a fingir-se ocupado ou pelo menos inocente...”


Bom, só são uns começos, para se gostar de ler os romances de que tratam.


3.


(Personagem: figura humana fictícia criada por um autor).


Na antiga Grécia ele era épico. Um arquétipo, um modelo, como Ulisses e Aquiles. Ou trágico como Édipo Rei. Esse herói clássico estava acima dos homens comuns, por ser nobre de sangue azul, mas sujeito às vicissitudes humanas, das quais o calcanhar de Aquiles serve de exemplo. Os épicos geraram o romance. Os trágicos, o teatro.


A partir do renascimento, entra em cena o herói moderno, no papel do homem-comum, cuja nobreza está no seu caráter, nas suas ações, na sua própria condição. No entanto, o que vai se consagrar na modernidade é a figura do anti-herói, que é patético. O primeiro deles fundou a literatura moderna. Precisa dizer de quem se trata?


4.


(Diálogos: falas fictícias, que podem ser mais convincentes do que as verdadeiras).


Do conto “O fim”, de Jorge Luis Borges. Cenário: uma bodega no pampa argentino. Personagem 1. Um negro a dedilhar um violão, numa longa espera (7 anos) do personagem 2, um cavaleiro que chega, sem que se saiba qual o conflito que existe entre os dois.


“Sem alçar os olhos do instrumento, onde parecia buscar alguma coisa, o preto disse com doçura”:


- Já sabia eu que podia contar com o senhor.

O outro, com voz áspera, replicou:

- E eu contigo, moreno. Uma porção de dias te fiz esperar, mas aqui vim.

Houve um silêncio. Por fim, o negro respondeu:

- Estou me acostumando a esperar. Esperei sete anos.

O outro explicou sem pressa:

- Mais de sete anos passei sem ver meus filhos. Encontrei-os naquele dia e não quis mostrar-me como um homem que vive às punhaladas.

- Já compreendi – disse o negro. – Espero que os tenha deixado com saúde.

- Dei bons conselhos a eles, que nunca são demais e nada custam.

- Fez bem. Assim não se parecerão a nós.

- Pelo menos a mim – disse o forasteiro e acrescentou como se pensasse em voz alta: - Meu destino quis que eu matasse e agora, outra vez, põe-me a faca na mão.

O preto, como se não ouvisse, observou:

- Com o outono se vão encurtando os dias.

- Esta luz que fica me basta – replicou o outro, pondo-se de pé. Perfilou-se diante do negro e falou-lhe como cansado:

- Deixa em paz o violão, que hoje te espera outra espécie de desafio.

Os dois encaminharam-se à porta. O negro, ao sair, murmurou:

- Talvez neste me vá tão mal como no primeiro.

O outro respondeu, com seriedade:

- No primeiro não te saíste mal. O que se deu é que querias chegar ao segundo.

Afastaram-se um pouco da casa, caminhando a par. Um lugar da planície era igual a outro e a lua resplandecia. De repente olharam-se, detiveram-se e o forasteiro tirou as esporas. Já estavam com o poncho no antebraço, quando o preto disse:

- Uma coisa quero pedir-lhe antes que cruzemos ferros. Que nesta briga ponha toda sua coragem e toda a sua manha, como naquela outra de há sete anos, quando matou meu irmão.

Talvez pela primeira vez em seu diálogo, Martim Fierro tenha ouvido o ódio. [...]

E assim, numa sequência de diálogos exemplares, numa construção labiríntica, e cuja tensão se assemelha a toques sutis em fios desencapados, Borges conta o fim do mais lendário bandoleiro argentino.


5.


(Tempo cronológico-tempo psicológico: o primeiro se processa num plano objetivo; o segundo, é subjetivo. A propósito deste, é ler “Ulisses”, de Joyce, “talvez a mais fiel radiografia jamais feita da consciência humana”, na abalizada opinião de Edmund Wilson).


Faulkner cruza os dois tempos o tempo todo na primeira parte de “O som e a fúria”, que tem sua ação centrada nas oscilações da memória de um oligofrênico, que mistura os acontecimentos que vivenciou com o que vivencia, dos três aos trinta e três anos de idade. Na segunda parte deste romance encontra-se tudo o que é preciso saber sobre a relação tempo cronológico-tempo psicológico, fluxo de consciência, monólogo interior:


“Quando a sombra do caixilho apareceu nas cortinas era entre sete e oito horas da manhã e então eu já me encontrava no tempo outra vez, e ouvia o relógio. Ele era do meu avô, e quando o pai o deu para mim disse: Quentin, eu lhe dou o mausoléu de toda esperança e de todo o desejo; é mais do que penosamente possível que você irá usá-lo para adquirir o reducto absurdum de toda a experiência humana [...] Eu o dou a você não para que se lembre do tempo, mas para que possa esquecê-lo por alguns momentos e não gaste todo o seu fôlego tentando conquistá-lo. Porque nenhuma batalha se vence ele disse. Elas não são nem ao menos disputadas. O campo de batalha revela ao homem somente a sua loucura e desespero, e a vitória não é mais do que uma ilusão de filósofos e loucos”.

(Em tempo: a mais recente tradução de “O som e a fúria” (muito elogiada, por sinal), é do querido poeta Paulo Henriques Brito, que ministra um curso de formação de escritores, na PUC - Rio).


6.


Por fim, um final antológico - de Scott Fitzgerald:


“Gatsby acreditava na luz verde, no orgiástico futuro, que ano após ano surgia e se afastava de nós. Se esse futuro nos iludiu, pouco importa: amanhã correremos mais depressa, ergueremos mais os braços... Até que uma bela manhã...


E assim, barcos contra a corrente, partimos em busca de um passado que não volta”.







quarta-feira, 8 de julho de 2009

Banda de Pífano da Bela Vista

A Banda de Pífano da Bela Vista faz apresentação especial para o blog no Casamento da Rosinha.


Afinal, quantos anos vai fazer Audálio Dantas?

Por Ricardo Kotscho

Audálio Dantas é um alagoano muito supimpa, como quase todos os alagoanos, e muito amigo do escritor Antonio Torres, colaborador deste blog. Por sugestão dele, do Tote de Irineu, hoje publico este texto-homenagem do Ricardo Kotscho, publicado originalmente em seu blog "Balaio do Kotscho".


FELIZ ANIVERSÁRIO, AUDÁLIO.




Nos últimos dias, comecei a receber e-mails de amigos comuns me perguntando se não iria escrever nada sobre os 80 anos do Audálio Dantas. Como sabem, aqui no Balaio o leitor é também pauteiro.


Nem eu, que sou amigo e parceiro deste grande jornalista e cidadão desde os anos 60 do século passado, sabia da iminência de tão importante efeméride.


Sabia que Audálio há tempos tinha passado dos 70, ainda em plena e produtiva atividade, mas não que estivesse próximo de se tornar um octogenário.


Para quem não sabe ou não se lembra, ele foi o líder dos jornalistas paulistas na resistência à ditadura militar e teve papel fundamental na resistência à ditadura militar naqueles trágicos dias do assassinato de Vlado Herzog. Foi dirigente sindical e deputado federal, mas nunca deixou de ser um repórter eternamente com ânimo de principiante.


Atualmente editor da revista Negócios da Comunicação, poderia escrever milhares de caracteres sobre a sua brilhante carreira, com passagens marcantes nos bons tempos das revistas O Cruzeiro e Realidade, ou como autor de um monte de livros, mas fiquei com aquela dúvida na cabeça: ele já vai mesmo fazer 80 anos?


Achei melhor consultar primeiro sua mulher, a onipresente e dedicada Vanira, mas ela também não me ajudou muito com sua enigmática resposta:


“Você me perguntou se ele vai fazer 80 anos (no dia 8 de julho). A resposta é não e sim. E aí é melhor que ele lhe explique ou lhe confunda mais”.


No dia seguinte, Audálio resolveu desfazer o mistério escrevendo-me de próprio punho a verdadeira história sobre a sua idade.


“Pois então, resolvo a questão. Confusão desse tipo é coisa lá de cima, tá aí o Lula que não me deixa mentir.


Seguinte: lá no Tanque d´Arca, onde nasci, tinha cartório, escrivão e tudo mais, porém meu pai, homem de muito capricho, achou que para o menino ficaria melhor um registro em Maceió, portentosa capital do Estado de Alagoas.


Foi deixando, foi deixando, e quando resolveu eu já estava taludinho e, segundo várias testemunhas, muito inteligente. Merecia até estudar.


Andava pelos 7 anos e, garantiam, poderia ter um brilhante futuro na Marinha Brasileira, onde poderia estudar de graça. E foi para apressar a possibilidade de ingresso na Escola de Aprendizes Marinheiros que me botaram mais três anos nas costas.


Assim, meu caro, tenho duas idades: a oficial, no papel, e a verdadeira, mas só consta da tradição oral, familiar.


Escolha aí a que você prefere festejar. Aceito presentes em duplicidade. A conclusão desta história é: a Marinha perdeu a oportunidade de contar com a minha contribuição.

Lá eu seria, no mínimo, capitão-de-mar-e-paz. Quem sabe, até um almirante daqueles cobertos de galões e medalhas. O mais provável, porém, seria pegar uma cana por considerar legítima a Revolta da Chibata…


Taí, escolha as armas.


Do seu amigo e ex-quase marujo


Audálio”




Nota do blog: Como vocês podem ver, nem só no arraial do Junco as atrapalhadas cartoriais acontecem. Eu mesmo fui registrado um mês antes de ter nascido, conforme pode ser lido em "Carta de Apresentação", publicada aqui como "Crônicas".





terça-feira, 7 de julho de 2009

O Casamento da Rosinha




Por Mislene Lopes






No dia 24 de junho realizou-se o maior casamento do ano, o mais esperado de todos e eu estava lá, de penetra, porque não recebi o convite. Saí de São Paulo às carreiras, voando, porque se fosse de jegue não chegaria a tempo.


Que encantamento! Que alegria! O sorriso da Rosinha deixou os meus olhos extasiados: que maravilha! Que Madona?! Que Mary Moore?! Nem Julia Roberts conseguiria tantos flashes como Rosinha no dia de seu casamento.

Revivi minha infância, me senti uma menina, voltei por alguns instantes a ser criança.


Rosinha, em sua carroça ricamente decorada em estilo rococó, seu noivo e o padre desfilam pelas ruas do arraial do Junco acompanhados por cavalos e cavaleiros, pelo povo – moradores e visitantes -, pelos políticos que abraçavam a multidão feito ave de rapina.

Essa pequena cidade no mapa do Sertão baiano me dá orgulho, porém quem faz com que nos orgulhamos dela são aqueles que a amam, que a honram, que não a negam, que a divulgam em suas andanças, em sua literatura. Cada verso, cada palavra escrita ou até mesmo dita, nos leva ao arraial do Junco, pois, para cada um dessas pessoas, essa terra foi o inicio, o meio e nunca será o fim.


O cortejo segue pelas principais ruas da cidade, parando nas escadarias do Quiosque do Jânio, no meio da Praça, onde acontecerá a cerimônia de casamento. Rosinha sobe ao altar para se casar sabendo que depois terá se divorciar, para que no próximo ano venha se casar novamente com o mesmo noivo ou outro qualquer. Seu casamento começou com uma brincadeira de Arizio Torres no dia de São João e se transformou em tradição regional, mantida com coragem pelo seu criador que ao longo dos anos pouca ajuda recebeu dos órgãos públicos.


Desfila Rosinha com seu longo vestido branco, a caminho do altar, acompanhada até de jega com batom, talvez querendo arranjar noivo também.


Fascinante o calor humano: abraços e mais abraços, apertos de mão, alegria e mais alegria, o bom soado bom dia! O prefeito todo sorriso no meio da multidão, cumprimentando o povo, angariando simpatia.


Desfila Rosinha, não em um cavalo branco, mas em sua carroça movida a pangaré, quase empacando no meio do caminho. Mas... esperem! Que vem lá no meio da multidão! Será miragem?! Não! É ele, meu amigo Tom, até então virtual: amado por uns, odiados por outros. É ele, em pele e osso, e o festejo está me proporcionando a felicidade de conhecê-lo pessoalmente. No casamento da Rosinha mais um junquês que faz nossa Sátiro Dias ter seu valor, uma jóia lapidada divulgando o nosso velho Junco com honra e amor.


Desfila Rosinha com todo seu cortejo e com ela os sonhos dos junqueses. São tantas as alegrias, mesmo com duração de um dia, fica acesa a chama da esperança eterna. E com a Rosinha e toda sua comitiva seguia minha saudade da menininha franzina cheia de sonhos e esperanças correndo pelas ruas vazias da cidade.


No Casamento da Rosinha revivi meu passado cheio de cores e alegria, reacendendo a fogueira do meu coração. No ano que vem estarei lá novamente, nem que tenha que viajar em lombo de jumento.