quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O NATAL E OS PARQUES DE DIVERSÕES




Gosto dos festejos natalinos mais pelas lembranças que me trazem do que propriamente pelo evento embutido. Mesmo porque Jota Cristo não nasceu nessa data. A Igreja mercenária pegou carona na saturnália e brunária, as festas pagãs comemoradas em dezembro em homenagem ao deus Sol, e instituiu a Natividade nessa data, em tentativa de purificar alguns costumes pagãos que rolavam com maior intensidade nesses dias, tendo o seu auge justamente no dia 25, quando funcionava o “liberou geral” para cachaça e orgia. Um mil e quinhentos anos depois do decreto papal transformar o vinho em água, tudo que conseguiu foi enriquecer os comerciantes. A saturnália e a brunária seguem rolando soltas.

Apesar da invencionice cristã e da consternação do tema musical, não deixa de ser dezembro um mês em que ensarilhamos o nosso espírito e nos tornamos mais alegres e mais humanos. Em que pese haver gente questionando a brevidade da nossa solidariedade fraterna, ao menos uma vez ao ano é melhor do que vez nenhuma. Até os rigores da Lei abrandam nessa época, quando prevêem o indulto de Natal aos excluídos do convívio social.

Na minha curta infância no arraial do Junco não havia jingle bells nem papai-noel. O pinheiro de natal era um mandacaru e as pessoas se confraternizavam doando presentes para o leilão da igreja e arrematando outros, para ajudar na festa da Padroeira, que aconteceria um mês depois. Eu gostava porque havia o parque de diversão e a atração dos seus brinquedos, uma novidade naquele fim de mundo. Anos depois meu deslumbramento se deu com o tamanho da roda gigante e com o trem fantasma, em Alagoinhas. O parque era imenso e no ano seguinte trouxe mais novidade: montanha-russa. Os moradores se confraternizavam ao redor dos brinquedos ou das barracas armadas ao longo do parque.

Formiga de asa passa o tempo todo sem ninguém saber que ela existe. Quando chove, vira praga. Assim são os parques de diversão. Durante todo o ano a gente não vê um; quando chega dezembro, não há cidade que não tenha o seu. Onde será que eles ficam recolhidos durante todo o ano? E o que mais me impressiona é quer seja o daqui, o de Salvador, o de Alagoinhas ou o do arraial do Junco, todos têm a mesma mulher-macaco de nome Monga. Impressionante.
Parque que se prezava tinha seu serviço de alto-falante funcionando a todo vapor, tocando os últimos sucessos de Roberto Carlos e praticando serviço de utilidade pública, como chamar os pais de crianças perdidas. Hoje está tudo mudado: o sucesso da vez é a Banda Calypso, aquela cuja cantora soluça mais do que canta, e os pimpolhos perdidos carregam chips e podem ser localizados por satélite.

O locutor da rádio-alto-falante também fazia a vez de Cupido, ao dedicar a chamada “página musical” a alguma garota, a pedido d’algum casanova, geralmente a troco de cerveja. Lembro-me de um caso interessante, contado por um locutor de minhas relações. Por três vezes ele anunciou aos quatro ventos que sopravam no parque:

– Atenção dona Maria! Ouça essa páagina musical que quem manda é O. X.! – e colocava na agulha Lindomar Castilho cantando “Você é doida demais, doida, muito doida, você é doida demais!” No quarto pedido, a curiosidade bateu mais forte:

– Quem é O. X.? – perguntou o locutor.
– O. X. sou eu, seu criado! – respondeu o paquerador.
– E o que significa O. X.?
– O. X. são as iniciais do meu nome: Ontonho Xofé.



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