Uma das grandes obras do governo Robério foi a criação da Biblioteca Pública Antonio Torres, um sonho do grande amigo e primo Luiz Eudes. Cidade pobre, sem muita opção de lazer ou de leitura, a biblioteca era um caminho para se tirar as crianças, os jovens e adultos da ociosidade mental. Hoje, até nas cidades bem situadas economicamente, há diversas bibliotecas de acesso gratuito ao público, inclusive em entidades privadas. E as salas de leitura ficam cheias de estudantes, pesquisadores e até mesmo de simples leitores. Devo lembrar que uma das obras que imortalizaram Ptolomeu II, foi justamente a construção de uma biblioteca, a de Alexandria, no século III, AC.
Robério não teve a pretensão de Ptolomeu II, mas, certamente, sentiu o orgulho dos antigos egípcios. Era um inovador. Um pioneiro na construção de um bem abstrato e que de concreto só lhe renderia elogios. Lembro-me da solicitude de dona Nice, a primeira-dama, que respondia pela Biblioteca, me mostrando o acervo e fazendo questão que eu visse todos os livros doados, inclusive a obra completa do escritor da terra, Antonio Torres. Mostrou também a organização da sala de leitura, onde vários estudantes da região liam ou faziam pesquisas. O seu orgulho era visível, escancarado.
Já se disse muito a respeito do livro, mas não se disse tudo. O benefício que a leitura de um livro traz ao leitor é imensurável, incalculável, mas, infelizmente, não são palpáveis como numa boa transação comercial e por isso alguns governantes ignaros, adeptos do atraso intelectual do povo, fazem nada no sentido de levar a luz do conhecimento à sua juventude sedenta do saber.
Quanto mais ignorante o povo, mais os corruptos se locupletam. A leitura instrui, abre a mente, incita o leitor a pensar. E a questionar. Mas o lampejo visionário que teve o prefeito Robério, parece que feneceu na mesquinharia do poder pelo poder. O acervo da biblioteca se esvaiu, os livros foram surrupiados ladinamente, e até mesmo os do escritor-patrono, Antonio Torres, sumiram das prateleiras. Roubaram o direito da leitura das crianças, dos jovens e adultos e todo mundo fica calado, como se nada acontecesse ou que se fosse normal doações feitas pela benevolência alheia, conhecida ou não, parar em mãos inescrupulosas e escrotas que, pela sua ignorância dissimulada e mesquinharia escancarada, deve usar os livros apenas como papel higiênico.
Se Robério teve a magnanimidade dos grandes administradores, pequena se fez a administração carangueja ao permitir que o patrimônio público fosse devorado pelas traças humanas ou que escoasse pelo ralo da incompetência gerencial. Cadê o Ministério Público que não viu isso? Afinal ele existe, também, para fiscalizar a lisura e competência administrativa das prefeituras, pois a inabilidade no trato da coisa pública, traz incalculáveis prejuízos à população. Quando escrevi o livro “arraial do Junco”, em 2004, havia no acervo cinco mil livros. Hoje, passados cinco anos, há pouco mais de mil livros. Onde foi parar o restante, inclusive as doações feitas ao longo desses anos?
Vamos torcer (e cobrar) para que Joaquim Neto dê especial atenção à Biblioteca, promovendo concurso público para bibliotecário, conforme manda a Lei. Quem tem que cuidar do patrimônio público são funcionários qualificados na função em caráter permanente e estável, imunes ao troca-troca de prefeitos e a pressões políticas, e que possam ser responsabilizados na falta de zelo ou omissão.
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