segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Colóquio do Centenário de Nascimento de Eurico Boaventura



Colóquio Internacional Eurico Alves Boaventura


“Cidadezinha esquecida nesse longínquo sertão silencioso,

Não te conheço, mas, certamente, o meu nome sem ruído

Já te apareceu por aí, numa nova notícia.

A estas horas, na tua modesta Praça da Matriz, com certeza,

Já murmuram o meu nome com interrogações na voz (...)”

(Canção Para a Cidadezinha Desconhecida - Eurico Alves Boaventura)


No centenário do poeta, uma miríade de literatos e doutores. Assim foi o Colóquio Internacional do Centenário de Nascimento de Eurico Alves Boaventura, realizado pela Universidade Estadual de Feira de Santana, de 29 a 31 de julho.

Eurico foi o poeta da Feira, o menestrel do Sertão, o visionário apocalíptico da Feira de Santana desvairada dos últimos tempos, onde se semeia desordenadamente a selva de pedra e seus imponentes monumentos de concreto. Amou a sua terra natal mais que ela a ele, e sua paixão revelava-se em líricos versos modernistas com cheiro de curral e gado.

“(...)

Que poeta nada! Sou vaqueiro.

Manuel Bandeira, todo tabaréu traz a manhã nascendo nos olhos

E sabe de um grito atemorizar o sol

Feira de Santana! Alegria!

Alegria nas estradas que são convites para a vida na vaquejada

Alegria nos currais de cheiro sadio

Alegria masculina nas vaquejadas, que levam para a vida

E arrastam também para a morte

(...)”

(Elegia Para Manuel Bandeira – Eurico Alves Boaventura)


Foi poeta da terra, mas de sua poesia não falava nas tertúlias literárias que promovia em sua casa. Preferia recitar os versos de poetas d'alhures, segundo conta o escritor Antonio Torres, um dos frequentadores do seu seleto grupo de ouvintes. Timidez, modéstia, ou os dois juntos? Difícil de se saber.

Juiz de Direito e de tudo, porque naquele tempo era assim, serviu em várias comarcas interioranas, porém foi preterido em Feira de Santana. Sua filha Eugênia não sabe os motivos dessa querela judicante na sua terra natal, mas, devido à retidão do seu caráter, é compreensível que os corruptos detentores do poder político não o queriam por perto. Não nos esqueçamos que ainda é pratica corrente os influentes escolherem quem os irá julgar no futuro.

E foi nessa magistratura itinerante que o juiz Eurico Boaventura foi parar em Alagoinhas e lá fez grandes amigos, porém não deixou de contrariar interesses que culminou com a sua prisão no pipocar da denunciação anônima implantada pelo golpe militar de 1964 e que resultou no caça às bruxas promovido pelos escrotos. Solto, três dias depois sem que houvesse acusação formal ou comprovação de ilícitos, o dano moral foi contundente e não teve mais sossego em sua vida.

Morreu no anonimato literário em 1974 e assim permaneceria se não houvesse gente na Universidade Estadual de Feira de Santana com a coragem quase heróica de arregaçar as mangas e resgatar parte da mnemônica literária – e da própria história da cidade – no século XX.

Outros Euricos há em todo canto e lugar, aguardando que uma boa alma os tire do limbo da História e os conduza ao mundo com suas reais importâncias, como fizeram os autores do Colóquio Eurico Alves Boaventura. Justiça que se fez ao vate feirense; justiça que se faça à legião dos condenados à omissão eterna que nos observam com seus olhos erodidos pela ação dos séculos.

Parabéns aos realizadores pelo sucesso da empreitada feirense.





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