Diante dos fatos, uma constatação: há gente séria nesses chamados e-groups, preocupada tão-somente em ler e se fazer ler, tagarelar, cantar, discutir futebol, política e religião e, quando possível, falar de receita de bolo.
Estes são os autênticos, os que realmente dão sentido e vida às letrinhas frias e miúdas do monitor. São - posso afirmar sem medo de errar - os verdadeiros escritores cibernéticos, os que não precisam de bajulanças para serem lidos nem de outro expediente não muito recomendável para se fazer notar.
Mas nem tudo é assim dentro desses e-groups, ou “grupos de literatura”, conforme seja no nosso linguajar. É que no Inglês é mais chique. Em todos eles há uma turminha que pensa que sabe alguma coisa, mas não se manifesta porque se acha acima dos demais, são deuses, com todo seu universo de vaidade e poder. São pessoas oniscientes, invisíveis, que só se revelam em surdina, através dos chamados pvts ao moderador do grupo. Na sua essência, são chantagistas militantes e arrogantes quando algo não é do seu agrado: “ou sai ele ou sai eu”, dizem intimativos, encostando o moderador na parede. Normalmente sai “ele”, porque os moderadores precisam de bajuladores e os que conversam muito dentro de um grupo se tornam mais evidentes do que eles, os moderadores.
Dia desses uma amiga me convidou “gentilmente” a sair do seu grupo porque encaminhei à lista de bate-papo uma fotografia de um filhote de panda que, visto pelo olho da malícia, lembrava vagamente o órgão sexual masculino (vide foto acima). Dentre outras coisas, ela tornou público o seu descontentamento comigo, afirmando haver segundas intenções no envio da foto, que eu tinha a mente poluída, que eu havia quebrado as regras do grupo e patati-patatá. Uma verdadeira chamada à responsabilidade, como se estivesse falando com um moleque de rua. Ora, mas era só um filhote de panda e a mesma foto havia aparecido nos jornais e na televisão, mas as beatas do grupo haviam protestado e pediam a intervenção do Vaticano. A minha até então amiga, que se dizia agnóstica, me jogou na fogueira santa da Inquisição sem o mínimo pudor de justiça, sem o pendão da esperança balançar sobre o meu direito de defesa, mas com o devido furor inerente de quem tem o poder, de quem está por cima da carne seca e pode machucar sem o mínimo pejo. Morte aos anarquistas! - gritaram as beatas que não sabiam a diferença entre um pênis e um ursinho panda, muito menos o que era ser um anarquista. Depois que fui obrigado a pegar o meu boné de volta, talvez por arrependimento ou por querer agradar a Deus e ao Diabo ao mesmo tempo, a minha “amiga” me mandou e-mail indicando um grupo de ateus onde eu poderia me sentir à vontade. Segundo ela, era um grupo dos párias cibernéticos, aonde iam os pseudoescrotos, talvez o purgatório desse mundo tão quente quanto as paredes de um iglu.
Você, caro leitor, que ainda não faz parte desse mundo ciberliteral, aconselho-o a pensar duas vezes antes de entrar para algum, principalmente se você for daqueles que tem opinião formada e não abre mão delas. Você fará meia dúzia de amigos, em compensação encontrará uma miríade de gente escrota que se ofende por qualquer dá cá aquela palha, até mesmo com uma fotografia de filhote de panda. As pessoas expansivas e sinceras não adejam muito tempo nessa auréola de supostos deuses. Que o diga a minha amiga Sara Rafael, encantadora poetisa portuguesa, que esta semana me escreveu para dizer que ela havia quebrado o meu recorde de menor tempo de permanência em grupo.
A minha amiga d'além-mar, escritora de “facto” e de direito, educada nos mais rígidos colégios europeus, nem de longe tem essa explosão caliente dos latinoamericanos do Trópico de Capricórnio, mas leva a vantagem (ou talvez desvantagem) de ver a foto de um panda como realmente ela é: um panda. Tudo porque ela se enquadra naquilo que afirmei acima: não é daquelas que precisam bajular nem ser bajulada para sobreviver aos ditames ditatoriais desses grupos literários.
3 comentários:
Tem gente que gosta de fazer tempestade num copo d'água...Só por causa de imagem parecida com um órgão? E daí?Acho que tem tanta coisa acontecendo pra ficar impressionada com a cabeça de um bichinho desse...Eu hein!Nada a ver.Bobagem, fraqueza de quem não pode ver e associar sem maldade.Grilo brabo este.Bom, te ler!Abraço.
Certo dia recebi um e-mail com essa imagem de forma bastante engraçada que no final dizia assim: Calma é só um filhote de panda, de inicio até achei que fosse realmente um orgão mas no restante da imagem revelava ser o filhote de panda, em nenhum momento fiquei horrorizada, no entanto achei super engraçado e encaminhei aos meus contatos acho que enviei até para você Tom (rsrsrs).Assim que abri o e-mail logo veio a maldade, mas uma maldade inocente do tipo:Que pênis mais esquisito!!!mas depois de ver todo, cai em gargalhadas pois ri da minha própria malícia é uma pena que existam pessoas de mentes fechadas e antiquada. Que maldade pode haver em um filhote de panda? (rsrsr)
É isso mesmo Tom. Assino em baixo.
É sempre muito bom poder ler o que vc escreve.
Grata no que a mim diz respeito.
Ainda que eu nem sempre tenha tempo para comentar, é um prazer para mim ler e "ler" este blog.
Votos de sucesso para todos.
Abraço fraterno de Lisboa,
Sara Rafael
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