sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Leituras inesquecíveis II


As primeiras leituras da escola e o mundo maravilhoso de Andersen e dos Irmãos Grimm

Por Edna Lopes



*“Em kairós sou alma menina
com muito para aprender e viver.
Eterna adolescente
sonhando de olhos abertos,
suspirando ao ler poemas e
encantada com aventuras de capa e espada.”


Por que será que, desde sempre, tudo em mim tem um quê de fantasia? Por que não
largo as saias da literatura fantástica, dos contos de fadas, dos seres mágicos, dos heróis de capa e espada?


Sempre me pergunto e me respondo, porque sei tudo que li e vivi influenciou, e muito, o que me tornei e por isso assumo meu romantismo sem nenhum pudor. Assumo que meu lado criança me salva, cotidianamente, das loucuras do mundo adulto.


Dos tempos de ida à escola primária a partir dos sete anos, descobri o livro didático, suas leituras e seus exercícios. Uma festa ler tudo aquilo embora não entendesse bem muita coisa do que estava escrito ali. Apesar de que hoje tenho a convicção de que muitos (ou quase todos), sejam pedagogicamente questionáveis, sinto muito carinho por eles, pois sei o que significaram em minha vida.Tanto que sempre ficavam muitas lições sem responder ao longo do ano e, nas férias, era a minha diversão preencher o livro todo.


Descobri também que a biblioteca da escola rural, uma velha estante de mais ou menos um metro e meio de altura por um metro de largura, guardava um tesouro inestimável. Livros, livros, e eu nunca tinha visto tantos! Grandes e ilustrados, de poucas páginas, pequenos, mas grossos, capas de todas as cores, formatos diversos, texturas inimaginadas.


Quando li A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS, chorei na cena em que, na casa do prefeito, ela vê pela primeira vez uma biblioteca e, maravilhada, pede para tocar nos livros. Na lembrança, me vi menina diante daquela estante esquisita, de olhos arregalados, cobiçosos, encantada com as possibilidades que aquela visão me proporcionava.


Passado o primeiro impacto, deixei de brincar no recreio para ficar remexendo na estante, folheando-os, devorando os de poucas páginas e sonhando quando poderia ler um daqueles de muitas e muitas páginas. Um dia criei coragem e perguntei à professora se poderia levar algum emprestado e ela respondeu que desde que tivesse cuidado, poderia levar qualquer um.


Tempos depois, ao ler Clarice, reencontrei esse sentimento em FELICIDADE CLANDESTINA. Mais que uma menina, era uma mulher tomando ás rédeas de sua vida, fazendo suas primeiras escolhas.


Àquela altura já havia lido muitas histórias e também havia contado muitas, de memória, a meus irmãos menores, mas queria que eles vissem as ilustrações, que me ouvissem lendo-as, com todos os detalhes. Na época não liguei quem era o autor ou os autores, mas o mundo do Patinho Feio, da Cinderela, da Branca de Neve, do Soldadinho de Chumbo, da Menina dos Fósforos, do Príncipe Sapo e de tantos, tantos outros personagens tão queridos até hoje, invadiu o meu e nunca mais eu fui a mesma.

*Frag. de “Cronos e Kairós: Temporalidades da Alma”, de Edna Lopes





Um comentário:

Ibys Maceioh disse...

Minha grande amiga,Edna,
As leituras tem sido muito importante em minha vida e espero que muitos entendam isso.Os livros,que jamais os deixo longe de mim, tem uma importancia imensa nesse momento que estou ausente de minha querida aldeia e dos amigos.Parabéns, pelo texto.Um forte abraço no companheiro Tom,breve estaremos juntos.Ibys Maceioh.