Por Leila Barros
Em plena noite de 24 de dezembro, Josias corria com sua moto mais que o frango veloz da Sadia, embora não estivesse trabalhando. Ele corria para tentar afugentar o torvelinho de pensamentos que o assolava naquela véspera de natal. E nesse fervor, pensava muito:
“Já se vê que esse moleque vai dar trabalho. Um garoto que resolve nascer na véspera de natal, deve ser problemático e quem sabe até chorão. Eu tive que largar todo aquele rango na mesa para ver ele nascer.”
“Vacilei na hora agá e não usei o preservativo, mas a Josilene também vacilou, homem não é ligado nessas coisas! Agora eu vou ter que deixar de comprar meus CDs de pagode, vou ter que comprar tênis sem marca para arrumar leite para o bacuri, fala sério!”
E então, Josias se vê entrando em uma maternidade na periferia de São Paulo, meio desorientado e sem saber para onde se dirigir. E pensava:
“Não gosto de hospitais, como é que eu estou entrando nesse bagulho para ver um guri chorão, que eu nem sei se vai curtir a minha cara? E se ele resolver torcer para outro time?”.
Chegou finalmente no quarto que procurava e encontrou a sua Josilene.
“Que quarto maneiro, hein Josi? É esse aí o nosso moleque? Até que o guri não é tão feinho. Posso pegar? E aí moleque, tá gostando aqui do lado de fora? Ele é miudinho... Deve estar com frio... Vou sair para comprar um agasalho para ele e já volto.”
E na rua, Josias viu um camelô vendendo gorros de papai Noel. Comprou um e o colocou todo satisfeito! Começou a correr com aquele gorro vermelho na cabeça, com uma sensação mágica, seus pensamentos já estavam mais calmos, e o gosto novo de segurar o seu filho nos braços o envolvia por completo.
Resolveu diminuir a velocidade, queria curtir aquele momento como se saboreia um panetone em uma tarde natalina. E, com um sorriso de anjo nos lábios, sorria e pensava:
“Agora sou motoqueiro e papai Noel de responsa! Tô chegando moleque, seu papai Noel está na área, tá ligado?”
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