quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Leituras inesquecíveis VI: lendo os poetas

Por Edna Lopes

De Poesia


A poesia me salva
Do abismo.
Da desesperança.
É minha trincheira,
Minha bandeira desfraldada
Ao vento,(...)
Sobre Poesia – Edna Lopes


Desde menina acredito que qualquer pessoa merece a felicidade e merece o amor, desde que lute por ele. Acredito porque sempre li os poetas e nunca duvidei da verdade da poesia. Ao ler um poema, meu mundo mudava. Nem compreendia o que lia, mas me sentia tocada na alma por essa forma de linguagem tão inusitada naquele universo de menina da roça. No princípio, li Francisca Julia, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Olavo Bilac, Gonçalves Dias... Lia e decorava para dizer em voz alta, pois parecia música, aos meus ouvidos.

Lembro de quando li pela primeira vez um poema de amor. Nossa... Fiquei maravilhada! Devia ter uns 11 anos e saboreei cada palavra buscando um significado que nem sabia qual era: “(...) TE AMO: E AO TE AMAR ASSIM VOU CONJUGANDO OS TEMPOS TODOS DESSE AMOR, ENQUANTO SEGUE A VIDA, VIVENDO, E EU, VOU TE AMANDO... (...) TE AMAR: É MAIS QUE UM VERBO É A MINHA LEI, E É POR TI QUE O REPITO NO MEU CANTO: TE AMEI, TE AMAVA, TE AMO E TE AMAREI!” o autor era JG de Araújo Jorge, num livro encalhado na velha estante da escola, lacrado ainda. Foi realmente um achado. Depois me apaixonei por Vinícius de Moraes, paixão que perdura até hoje e mais um pouco descobri Drummond, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Jorge de Lima, Quintana e tantos, tantos mais.

Nas aulas de literatura brasileira, conheci as escolas literárias: Barroco, Arcadismo, Romantismo, Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo, Modernismo, Pós Modernismo... Era uma aluna tão curiosa quanto voraz: mal descobria um novo autor que me interessava lá estava eu na biblioteca fuçando tudo que achava dele. E foi assim que descobri Neruda, Camões, Otávio Paz, Fernando Pessoa e seus heterônimos, Bertolt Brecht, Maiakóvski, Florbela Espanca, Baudelaire, Rimbaud e tantos outros. Conheci também uma plêiade de gênios que fazem poesia em prosa: os cronistas, mas aí já é outra história.

Aprendi muito com cada poeta que li. “Vivi” todas as fases: poesia panfletária, poesia marginal, poesia clássica, poesia erótica, poesia regional, universal... Poesia para todos os gostos e tempos de vida. Em todas, o reconhecimento do poder da palavra dita para encantar, embelezar, denunciar, anunciar, se fazer vida.

No cibermundo, um mundo encantado de possibilidades. Tanta gente maravilhosa que me encanta, que me deixa feliz em saber que a poesia é parte da vida, do sonho cotidiano, do prazer de ser quem é. Gente com pretensão apenas de ser gente. Aprendentes da vida e do sonho de se fazer poeta, mesmo quando a vida diz NÃO. Sem falar nas maravilhas dos clássicos que reencontro, nas surpresas, nas novidades que jamais saberia sem esse auxílio luxuoso da rede.

Um destaque especial para as brasileiras Adélia Prado e Cora Coralina. Estas são as minhas mestras mais que especiais: trouxeram-me um mundo com a visão especial do feminino, do sagrado, das corriqueiras vivencias cotidianas. Seria capaz de citar mais de uma centena de mulheres poetas de quem sou fã, com quem aprendo a olhar o mundo de forma mais terna e sensível. Olhar para além do que a visão fotografa e a emoção traduz.

Ler poesia, desde que sou leitora, é a minha principal e mais prazerosa fonte de reflexão, de diversão. Um vício mesmo. Ler um poema é me permitir acariciar a alma com dedos de nuvem, alimentar meus sonhos, minhas fantasias, iluminar minha vida, consolidar meus afetos. Aprendo, de verdade, a ser mais gente. Aprendo a amar mais a vida, a perceber mais meu semelhante com cuidado, carinho e respeito na forma com que se apresenta. Aprendi/aprendo com Mario Quintana algo fundamental que, ao meu coração, soa como um mantra: “Tudo já está nas enciclopédias e todas dizem as mesmas coisas. Nenhuma nos pode dar uma visão inédita do mundo. Por isso é que leio os poetas. Só com os poetas se pode aprender algo novo.”

Esse também é meu jeito de ler e viver a vida. O olhar da poesia é, definitivamente, meu modo de ser e estar no mundo e seria pretensão da minha parte querer ser compreendida de cara, aceita por isso. Não me incomodo nem um pouco com a opinião de quem acha isso romantismo exacerbado, estéril. Assumo que me faço musa (intrusa) de cada poema de amor que leio, protagonizo as tramas, os dramas, torço, sofro, vibro, tenho raiva, me indigno e, por vezes me emociono às lagrimas com cada imagem lida.

Continuo lendo os poetas e sei que lerei muitos, vida a fora. Sei que falam sério quando dizem da dor, da tristeza, da alegria, da paixão e da certeza do milagre do amor na vida vivida e/ou sonhada. Falam sério quando criam vidas, personagens, mesmo que os sentimentos aflorados no texto não tenham nada a ver com a vida de quem o escreveu por isso continuo acreditando no amor que leio, no amor que vivo sem medo, sem tristezas, com determinação.

Sempre me digo que, ao modo de Maiakóvski sou toda coração e agradeço a possibilidade de poder conduzir minha vida, absorver em minha alma a beleza e a emoção das prosas e versos que leio pois minha alma nunca duvidou da sinceridade da poesia e nem da felicidade que é viver o amor em sua inteireza e plenitude. Sempre me digo: Eu mereço! Ao ler um poema, minha alma brinca de ser feliz.

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