quarta-feira, 7 de abril de 2010

A Teia da Diversidade - Cineas Santos





O que aconteceria se, de repente, integrantes de todas as tribos culturais do país decidissem se encontrar, numa cidade ensolarada, para falar, ouvir, ensinar, aprender e, principalmente, conviver solidariamente? A resposta é simples: tudo e mais alguma coisa, principalmente alegria e beleza. Foi essa a impressão que guardei do encontro nacional de pontos de cultura – TEIA: tambores digitais - realizado entre os dias 25 e 31 de março do ano em curso, em Fortaleza. Consta que pelo menos 4 mil representantes de pontos de cultura de todos os recantos do Brasil marcaram presença. O número pode parecer superestimado, mas não duvido de que esteja bem próximo da realidade: em menos de 24 horas, encontrei 3 catingueiros que, como eu, olhavam abismados aquele dilúvio de gente. Uma moça de Caracol, outra de São Raimundo Nonato e um rapaz de Anísio de Abreu, gente de minha antiga aldeia. Confesso, com muita alegria, que nunca me senti tão enturmado. Pela vez primeira na vida, encontrei uma caracolense bem mais articulada do que eu. Com uma câmara digital na mão, a moça registrava tudo, enquanto eu me limitava a espiar. Conclusão: uma teia capaz de alcançar o Caracol é, efetivamente, abrangente.

De repente, o monumental espaço cultural Dragão do Mar ficou pequeno para comportar tantas e tão distintas manifestações culturais. Num mesmo caldeirão musical, misturavam-se a Orquestra de Câmara Eliezer de Carvalho, banda de pífanos dos Irmãos Aniceto, Jorge Mautner, Dona Zefinha, Fagner, Tambores do Tocantins, Orquestra Popular Meninos da Ceilândia, Chico César, Bloco Afro Ilú Obá de Min, Reisado de Santana, Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene, Carimbó dos Quentes da Madrugada e o escambau. Acrescente-se a isso a troca de experiências, debates apimentados, projetos ousados, mostras de arte e artesanato e muita alegria. Um caldeirão cultural fervilhante de luz, cor, sons, magia... Para o encerramento do encontro, organizou-se o Cortejo da Ebulição dos Libertos, com a participação de mais de 2000 pessoas. A melhor parte: os políticos não tiveram espaço para suas arengas costumeiras. A festa tinha dono: o povo brasileiro.

Ainda é cedo para que se faça uma avaliação adequada do legado do governo Lula para a cultura brasileira. Mas é inegável que, sob a batuta de Gilberto Gil e Juca Ferreira, a cultura dos “grotões, chapadas e morros” pôde mostrar a cara sem medo de ser feliz. Os pontos de cultura propiciaram aos “despossuídos” de todas as aldeias a oportunidade de gritarem ao mundo: ESTAMOS VIVOS! Azar de quem não quiser ouvir.





Nenhum comentário: