De Era Dunga |
Escrever obviedades remoídas sobre a seleção brasileira, seu técnico e jogadores, seria o mesmo que murmurar um sinal de alerta anunciando um enxame de abelhas no meio das vuvuzelas a todo vapor. Dizer que estranho a nossa seleção, pentacampeã mundial, ter o seu ponto forte na defesa e abrir mão do talento em prol de uma seriedade que descaracteriza o nosso futebol, além de óbvio, é frustrante como uma retranca. Seja de qual era for. No entanto, o interessante é que o meu ponto de vista camicase também não passa de obviedades. Sobretudo, aquelas que, paradoxalmente, estão camufladas pelo silêncio dos interesses econômicos, pela conivência vantajosa da grande mídia, pelo óbvio escondido sob os tapetes, os quais torcedor nenhum admite sequer conjeturar.
Descarto o maniqueísmo intelectualoide que permeia, sobretudo, os pernas-de-pau sem barriga de chopinho. Porém, se o Brasil é o país do futebol, causa e efeitos lhes são inerentes. Se não, vejamos alguns fundamentos, não necessariamente técnicos e táticos, e suas implicações sócio-culturais. Tudo, claro, a partir do meu ponto de vista camicase. Antes, porém, uma historinha interessante: dizem que quando nem sonhava existir Charles Miller, por volta de 3000 anos antes de Cristo, o futebol deu o seu pontapé inicial com os soldados chineses – eles estão em todas mesmo – que, depois das guerras, usavam como bola as cabeças decepadas dos adversários derrotados. A partir daí, cabeças de técnicos e jogadores de futebol têm rolado diariamente. Porém, são apenas essas as que rolam. As que comandam permanecem chutando.
Mas, vamos aos tais fundamentos do meu ponto de vista camicase, sem qualquer pretensão de arranhar os alicerces da devoção brasileira pelo futebol e, tão pouco, da minha vocação para torcedor sazonal. Pois bem, no Brasil tudo começa com a criação de ídolos que naturalmente deixam de estudar, sem qualquer intervenção do Estado, e formatam no imaginário coletivo - principalmente das crianças - a legitimidade desse desinteresse. Depois, dentro das quatro linhas, para delírio dos torcedores, a violência faltosa e desleal se justifica sob a perspectiva da garra, da raça e da torcida a favor. A dissimulação, no intuito de ludibriar, de enganar, de auferir vantagens, é algo corriqueiro e plenamente aceito pela massa e pelos atores de uma partida de futebol. A desmoralização da autoridade em campo (o árbitro) parece ser uma tentativa constante e, talvez, o único fator de irmandade entre as torcidas. Tudo isso, que doravante chamarei de ingredientes, é cozinhado durante noventa minutos num caldeirão efervescente. Frio ou quente, não é consumido apenas ali, direto do caldeirão. O caldo forte também é servido para viagem.
Portanto, é óbvio que os tais ingredientes serão, no mínimo, arrotados no dia a dia do “torcedor-cidadão” de todos os níveis e classes sociais.
Nota do Blog: Macléim Damasceno é jornalista, cantor, compositor, programador da Rádio Educativa de Maceió e cronista nas horas vagas.
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