quarta-feira, 18 de agosto de 2010

AS FÉRIAS DO BRÓDER MARCÃO

Para o amigo Marcos Cunha,
Poeta de alta cepa.


De Morro de são Paulo



Marcão entrou em duplas férias: trabalho e faculdade. Aproveitou a oportunidade para conhecer Morro de São Paulo e suas turistas maravilhosas. Fez as malas, deu um beijo de despedida na mulher – que virou a cara em protesto gemente compreensivelmente humano de “na volta a gente se acerta!” –, deu um beijo na filha e entrou no táxi, rumo à Companhia Baiana de Navegação, vizinha ao porto de Salvador e em frente ao Mercado Modelo, onde embarcaria no “Catamarã” até Valença e de lá seguiria de canoa ou barco até a maravilhosa ilha, tão cantada em versos e prosas.

Viagem para Valença somente duas horas depois. Enquanto aguardava, resolveu jogar conversa fora na barraca do Miranda, no Mercado Modelo, regada a cerveja e tira-gosto de lambreta e pititinga, um peixinho tão miúdo que mal cabe na ponta do palito.

Em Salvador tem dessas coisas: quando você quer testar a baianidade de uma pessoa, leva-a ao Mercado Modelo. Chegando lá, se pedir uma dose de cachaça Januária e uma porção de lambreta, pode apostar que é baiano dos bons; caso contrário, é um impostor.

Passadas as duas horas, Marcão, ou melhor, Marcos Cunha, operador de processo metalúrgico da Caraíba Metais, embarcou para sua viagem encantada pela Baía de Todos os Santos, via mar de Itaparica e depois costa sul baiana.

Não descreverei o percurso, pois ele era marinheiro de primeira viagem e só conseguiu sair do banheiro quando o navio parou em águas calmas de Valença e não fica bem se falar do líquido verde que saía de sua boca quando o seu estômago não tinha mais nada para vomitar.

Em Valença, acertou com um barqueiro, atravessou a faixa que separa o continente do paraíso e, duas horas depois, andava sem rumo pelas ruas de Morro de São Paulo à procura de uma hospedagem. Em todas que batia, apenas uma resposta: lotação esgotada.

Procura daqui, procura acolá, já noite fechada, conseguiu uma esperança:

– Há uma cama vaga em um dos quartos, mas lá está dormindo um cidadão que ronca muito, muitíssimo, e alto, que interfere até nos quartos vizinhos e os outros hóspedes vivem reclamando.

– Não tem problema não. Sou acostumado a dormir na área da Caraíba, onde o barulho é ensurdecedor, quanto mais um ronquido à toa.

– Então a responsabilidade é toda sua. Depois não venha me dizer que não lhe avisei.

Marcão pegou a chave e foi para o quarto. No outro dia levantou-se disposto e, ao sentar-se à mesa para o café da manhã, o dono da hospedagem foi até ele. Sorridente, indagou:

– Como é que você conseguiu, cara? Pela primeira vez, desde que esse cidadão chegou, que todos dormiram sossegados, sem ouvir o ronco. O que foi que você fez? Que milagre foi esse?

– Eu não fiz milagre nenhum. Simplesmente, quando voltei pra dormir, o tal “roncador” se encontrava deitado de bruços. Puxei o lençol, dei um beijo na bunda dele e disse: “Que bundinha mais linda, meu Deus! Se dormir, eu traço! Há muito tempo que não vejo uma bundinha dessa!” Aí ele deu um pulo da cama, aterrorizado, se sentou num banquinho e passou a noite lá, sentado, me vigiando, com medo de fechar os olhos e dormir.


N.A. Qualquer semelhança com piada de botequim é mera coincidência.

Um comentário:

Toninho disse...

Muito boa postagem, quem tem.. tem medo já dizia meu avô,kkk.Mas esta é boa para contar em arquibancada de Fonte Nova em dia de BA X VI.Mas qeu é bom uma pinguinha no Mercado MOdelo, isto é. Um abraço.