sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Dos factoides aos fatos

De Comprador de almas

O anedotário político conta que, passada a eleição numa cidadezinha do interior, o coronel político local dirigiu-se à zona rural para devolver os títulos eleitorais aos seus respectivos donos. Um dos eleitores, ao ter o título de volta, perguntou:

- Coronel, o senhor pode nos dizer em quem nós votamos?
- Ora, pois! Como vou dizer?! Vocês não sabem que o voto é secreto?!

À primeira vista, isso parece coisa do passado, mas, à luz do século 21, tudo isso acontece, escancaradamente, por todo o Brasil, de forma mais ladina e mais safada. E não só com a gente simples do interior, mas com os doutos citadinos e pseudos formadores de opinião que enchem nossa caixa de correio eletrônico com montagens mal feitas e notícias inventadas como se tudo verdadeiro fosse.

Ainda não sei qual o mais daninho: a compra e venda do voto em si, ou essas mensagens apócrifas que circulam na Net, encaminhadas por suposta gente do bem, que deveria, no mínimo, pesquisar a veracidade da fonte antes de passar adiante como fato consumado. A mais aberrante que vi, até agora, é uma que me encaminharam, recentemente, afirmando que Dilma havia feito um pacto com Satanás para ganhar a eleição e, um ano depois, morreria de câncer, entregando a presidência para seu vice, Michel Temer, “este sim, o verdadeiro filho do Capeta”, dizia a mensagem.

Seria cômico se não houvesse a maledicência por trás da falsa notícia. No oba-oba, os mais fracos de espírito acreditam que realmente isso aconteceu e que Dilma colocou sua alma à venda a troco de um simples ano de governo. É o desespero dos neonazistas na tentativa de se reverter a iminente derrota de Serra, um candidato sem brilho, sem proposta, e repleto de promessas eleitoreiras. Esse negócio de prometer dar aumento irreal para o salário mínimo e aposentados beira à irresponsabilidade e loucura. Como o brasileiro tem memória curta, vale a pena relembrar: no governo FHC foi a maior briga no Congresso Nacional para se elevar o salário mínimo a 70 dólares. E os trabalhadores sofreram oito anos sem aumento de salário. O atual governador de Alagoas, do partido de José Serra, vai deixar o governo sem dar um centavo de aumento ao funcionalismo público. São quatro anos de arrocho salarial e agora o representante maior do PSDB vem com promessas mirabolantes, achando que o povo é idiota.

No mês de junho as enchentes devastaram uma parte de Alagoas, matando dezenas de pessoas e desabrigando milhares. Santana do Mundaú, a cidade mais atingida, e ainda praticamente destruída, ressurgiu dos escombros para entrar no noticiário policial. O prefeito de lá, e os respectivos secretários, foram afastados do cargo por gastar quase um milhão de reais em campanha eleitoral para um candidato da coligação peessedebista. Como se não bastasse, a polícia apreendeu toneladas de doações guardadas na casa do alcaide, que só distribuía aos necessitados mediante o compromisso do voto nos candidatos do mesmo. Alguns secretários, verdadeiros ladrões, encontram-se foragidos, pois também fora decretada a prisão dos mesmos.

No mês de agosto esse mesmo prefeito apareceu na imprensa local reclamando da rigidez na aplicação das verbas federais na reconstrução das cidades atingidas pela catástrofe, que, em vez do dinheiro parar nas contas das prefeituras, fora criada uma conta sob a responsabilidade do governo estadual, cujo uso deveria passar pelo crivo do Ministério Público e Tribunal de Justiça. Dentre outras coisas, ele, o prefeito, disse: “O Governo Federal está tratando os prefeitos como bandidos.”

Diante dos últimos fatos, eis a constatação:

- E não é que Lula tinha razão!


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