sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Luís Pimentel - Maluco são os outros

O homem estava sentado no chão, no canto à esquerda da porta do bar. Outro homem estava sentado em uma cadeira, com encosto para as costas e braço lateral para apoiar a mão, no canto à direita. No centro do cenário, cotovelos no balcão, um terceiro homem bebia cerveja e fumava cigarros.

O homem sentado no chão estava muito sujo, barba e cabelos desgrenhados e cheios de fuligem. Fedia muito. Tinha moscas à sua volta, ou mosquitos. Mesmo assim, mantinha a mão estendida, pedindo dinheiro. Não pingava um tostão sequer na mão do infeliz. O homem que usava a cadeira anotava jogo do bicho, daí o encosto para as costas e o braço de madeira, para apoiar a mão enquanto escrevia os números que os apostadores ditavam. O homem que bebia e fumava só bebia e fumava, vez em quando balançando a cabeça afirmativamente, concordando com alguma coisa que o dono do bar dizia. 

Lá pras tantas o homem que escrevia jogo do bicho olhou para o homem do balcão e para o comerciante. E disse:

– Vocês não acham que esse mendigo filho da puta está fedendo muito? E que isto espanta nossa freguesia?
– Eu acho – disse o homem que bebia e fumava. 

E imediatamente puxou um revólver da cintura. Mirou bem e atirou no mendigo, matando-o na horinha. Depois pagou a conta e saiu, assoviando uma canção que ninguém ali conhecia.

Até hoje o apontador de jogo e o comerciante se perguntam, intrigados, quem era aquele maluco violento que um dia tomou cerveja e fumou cigarros no balcão do bar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Dormir com uma coisa dessas na cabeça não é bom. Mas acontece tanto, aqui e ali que a gente fica sem saber entre os homens quem é humano ou não. Animal é que não pode ser, animal não faz isso. Fico pensando se não há dentro da raça humana uma sub raça ainda não nominada.