sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Luís Pimentel - Mercadorias

Depois de trinta e dois dias de pé na estrada, desbravando a Bahia, eis-me aqui de volta a trazer a boa leitura para os leitores acauãzeiros. Apesar de preferir prosa, pois há uma infestação de poetas cibernéticos, recomeço com esse lindo poema de Luís Pimentel, que começou 2011 com o pé direito: foi o vencedor na categoria Conto do concurso do MEC "Literatura Para Todos". O livro premiado é inédito e se chama "Ainda é cedo, amor". Será impresso pelo MEC e distribuído nas bibliotecas e escolas públicas de todo o país, com o lançamento previsto para abril deste ano, juntamente com os dois dos concursos anteriores.


MERCADORIAS
Luís Pimentel

O menino carrega o cesto,
bem mais pesado que ele.
A mãe do menino,
mais pesada que o cesto,
senta-se na calçada e dá ordens.

O menino tem pernas finas,
sorriso triste e olhos fundos.
A mãe tem esporas nos dedos,
tem lacraias entre as unhas,
grita que o menino é molenga
e não sabe vender o produto
– para encher novamente o cesto.

O menino encosta o cesto no muro
e descansa as costas murchas.
A mãe pergunta o que está acontecendo,
entre urros e ranger de dentes.
Entre dor e soluços
o menino chora que está cansado.
E quando olha para a mulher, de relance,
traz consigo aqueles olhos do Menino Jesus
que a gente conhece dos calendários.

Penso em parar e ajudar o menino
a esvaziar o cesto, a vender suas pedras,
mas não posso;
eu também tenho que bater pernas,
oferecendo por aí as minhas palavras.




2 comentários:

Toninho disse...

Belo e triste.E são tantas espalhadas a carregarem seus fardos, que mais pesam na alma.Não há lei,estatuto que faça a mudança desta estrutura de miseria e fome,que faz tudo parecer normal naqueles que sabem a dor do querer e nao ter.
Meu abraço amigo.

Anônimo disse...

As palavras do Luís são lindas e !que bom que você voltou, Tom!