domingo, 30 de janeiro de 2011

Leila Barros - Metro-o-quê?

Com essa história, que anda solta pela mídia, de Novo Homem que precisa soltar sua porção mulher para ser mais feliz eu me lembrei do Rodolfo Augusto (que inspiração a mãe dele teve para lhe dar esse nome, hein?!). E lembrei também, por tabela, da Jô, sua esposa.

A Jô se queixava de que o Rodolfo era muito machista, muito individualista e workaholic, só ficava lendo a Gazeta Mercantil. Eles só faziam amor nos finais de semana. Aliás, sexo apenas. E ela sentia nesses momentos como se ele estivesse guardando documentos em sua pasta executiva. Nada mais, um tédio! dizia ela.

Depois o teor da queixa mudou um pouco.

- O Rodolfo anda meio estranho, ultimamente – se queixava - Anda em salão de cabeleireiro, vive falando em limpeza de pele, em combinar os tons do sofá com as cortinas, falou até em fazer compras comigo no shopping... eu hein! Está lendo umas coisas esquisitas de um tal Mark Simpson, vive cantarolando a música do Pepeu Gomes: “Ser um homem feminino, não fere o meu lado masculino...”

- Outro dia eu o peguei dançando uma música do Abba na sala, enquanto nosso gato olhava para ele com uma cara muito esquisita! E, pior ainda, estava usando os meus cremes hidratantes e o meu quimono de seda! Fiquei uma fera! Imagine! Usar meus cremes importados naquela cara barbada, de homem! Deixar meu quimono com cheiro de homem!

Para meu "espasmo", ela continuou:

- Sabe, amiga, eu não gostava da fase anterior do Rodolfo, mas essa fase atual está me preocupando. Eu queria um homem mais sensível e atencioso realmente, mas essa versão Pepeu-cósmico-Gilberto-Gil, está me deixando maluca! Afinal eu casei com um homem, de peito cabeludo e tudo o mais!

E o Rodolfo Augusto prosseguia em seu aparente e iminente comportamento modificado. As colegas do banco multinacional em que ele trabalhava estavam prestando mais atenção nele e convidando-o para almoços e happy hours com mais frequência. Ele estava adorando.

E a coisa não parou por aí. Ele mudou seu guarda-roupa quase todo, trocando os ternos "politicamente corretos e em tons moderados" para ternos bem cortados, arrojados e até camisa cor-de-rosa passou a usar.

Sua mulher decidiu chamá-lo para uma conversa mais profunda.

- Então Rodolfo, o que é está acontecendo com você? Você anda tão diferente, modificado... Está estressado?

E ele calmamente respondeu:

- Jô, eu agora sou metrossexual! Mudei porque achei que precisava liberar meu lado feminino, para ser mais feliz. Você não se queixava que eu vivia mergulhado no meu mundo masculino?

E ela retrucou:

- "Metro" o quê, Rodolfo?

- Metrossexual, Jô! O homem da nova era, engajado com o estilo de vida moderno, um homem que se cuida e que não tem vergonha de explorar seu lado Ying! Um novo ser pleno e cósmico!

De olhos arregalados e boquiaberta, Jô deduziu que o marido estava ficando maluco ou virando gay.

Ele estava cada dia mais radiante, fazia novos amigos, saía para dançar, enquanto ela vivia cismada, inconformada e sempre muito estressada com o novo padrão de vida dele.

- Eu casei com um homem e agora vivo com um metrossexual, que até os pelos do peito resolveu depilar! - lamentava.

Um dia ela precisou chamar um pedreiro para trocar o chuveiro queimado, porque o Rodolfo Augusto não queria mais se submeter a esse tipo de trabalho rude. Fazia calor e o pedreiro estava com a camisa aberta, mostrando o peito cabeludo. Ela ficou maluca, ofereceu limonada, bolo e até um almoço no dia seguinte.

Entre um conserto e outro, ela virou para o tal pedreiro e perguntou se ele sabia o que era "metrossexual". Ele, com os olhos esbugalhados, respondeu:

- Olha Dona Jô, na minha casa meu pai disse que se tivesse filho com esse "pobrema" ele botava fora de casa!

Hoje ela vive com o tal pedreiro em uma casinha lá perto da estrada da Pedreira. O Rodolfo Augusto atualmente ministra palestras sobre esse tão famigerado tema do Homem Novo,  tendo como fundo a música do Pepeu: “Ser um homem feminino, não fere o meu lado masculino... “



2 comentários:

Anônimo disse...

Tenho certeza de que a culpa foi do nome: onde já se viu dar um nome para um menino? Só podia dar no que deu...

Toninho disse...

E assim caminha a humanidade amigo.Penso que depois do livro a Revolução dos bichos implantou-se a revolução da bicharada talvez numa releitura invertida.Culpa do Geroge Orwel.Meu abraço.