sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Cineas Santos - Por quê?

Dileto amigo me manda um “belo poema do Drummond”, com alguns comentários adicionais. Até aí, nada de extraordinário: em Teresina, até as pedras sabem que não respiro bem sem a minha cotidiana ração de poesia. Regularmente, leio, edito e divulgo poesia em todos os veículos de que disponho. Uma das maiores tristezas que experimentei na vida foi deixar de editar, mensalmente, o Calendário Poético que, por mais de dez anos, distribuí aos “viciados” em poesia. Com o acesso à internet, passei a enviar, semanalmente, poemas para um seleto punhado de amigo. Para mim, consumir poesia é um hábito salutar. Mas voltemos ao amigo: o “belo poema” que ele me mandou era tão verdadeiro quanto uma nota de três reais. Não me contive: Amigo, agradeço-lhe o carinho da lembrança, mas o Drummond que você me mandou é paraguaio e com prazo de validade vencido.

Um tanto contrafeito, o amigo me fez a seguinte pergunta: “Meu caro mestre, o que levaria alguém a servir-se do nome de um autor conhecido para divulgar o que escreve?”. Como não sou psicólogo nem vidente, não tenho a resposta. As razões poderiam ser as mais diversas. A primeira delas: a consciência da própria desimportância e, consequentemente, a certeza de que ninguém leria as baboseiras que escreve. A segunda: arrogância travestida de humildade. Explico: o impostor acredita que o seu texto é muito bom, primoroso, essencial, mas como o leitor é “burro” e só se interessa por “medalhões”, recorre a um bonde famoso para veicular sua “preciosidade”. Prefiro ficar com algo mais simples, direto: pura e simples falta de vergonha na cara.

Ora, já disse que a internet é a casa da mãe Joana; vou um pouco além: é a cloaca da civilização. Nela, cabe tudo e mais alguma coisa. Hoje, qualquer idiota pode difundir o que bem entender, protegido pelo manto do anonimato. As vítimas desses cretinos são sempre autores famosos: Borges, Drummond, Quintana, Millôr, Veríssimo. Agora, por exemplo, circula na internet, com enorme sucesso, uma crônica atribuída a Luís Fernando Veríssimo sobre o BBB. Entre outras baboseira, o “Veríssimo” afirma: “Dizem que Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve o seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB 11 é a pura e suprema banalização do sexo”. Imaginem o L. F. Veríssimo, sempre elegante e inteligente, convertendo-se num pregador moralista. O texto é rebarbativo, medíocre e preconceituoso. É realmente digno do BBB. Em nota elegante e discreta, o verdadeiro Veríssimo explica: “Não poderia escrever nada sobre o ‘Big Brother Brasil’, a favor ou contra, porque sou um dos três ou quatro brasileiros que nunca o acompanharam. O pouco que vi do programa, de passagem, zapeando entre canais, só me deixou perplexo: o que afinal atraía tanto as pessoas – além do voyeurismo natural da espécie – numa jaula de gente em exibição?”.

Irmãos e irmãzinhas, sem querer ser pretensioso, deixo aqui uma advertência: quem só lê na internet acabará, mais cedo ou mais tarde, caindo na tentação de escrever bobagens para atribuí-la a um notável. Não digam que não avisei.


Um comentário:

Toninho disse...

Perfeito alerta, pois tem sido comum as atribuiçoes a textos sensacionalistas ou mesmo de degradação de pessoas e ou marcas.Internet é tudo de bom, mas pode ser o mal pior de tudo se nao se usa com moderação e inteligencia minima.