quinta-feira, 26 de maio de 2011

Antonio Torres - Carta aos jovens escritores de Palmeira dos Índios

Meninos, eu conto:


Foi na cidade de Alagoinhas, no interior da Bahia, que um professor chamado Carloman Carlos Borges emprestou um romance intitulado Angústia a um aluno que ele flagrou lendo um livro de poemas com este título: Amo! Assim mesmo, com ponto de exclamação! Passar de Amo! para Angústia não deixou de ser um tratamento de choque, radical mesmo, para aquele rapazinho que, ao trocar um autor dito J. G. de Araújo Jorge por um certo Graciliano Ramos, iria avançar rapidamente na sua escada ascendente de leitor, numa escalada sem volta. E de degrau em degrau, acabou se tornando um escritor. Este que agora lhes escreve, valendo-se de uma memória do seu tempo de colégio para saudar, com a mais viva emoção, todos os participantes do Concurso Jovem Escritor/ Prêmio Graciliano Ramos, em boa hora promovido pelo Instituto Federal, campus de Palmeira dos Índios.


É um momento raro para este velho escriba, pelo qual muito agradeço à professora Vanúsia Amorim: o de poder me dirigir aos jovens escritores da terra do velho Graça, aquele cuja leitura, desde meus anos mais juvenis, sempre me provocou um grande impacto, tanto pelos rigores de seus temas e de sua escrita, quanto pelo seu estilo admirável.


Conto isso para dizer que nascer em Palmeira dos Índios, como em qualquer outro lugar do estado de Alagoas, é trazer nas veias as marcas da melhor literatura que este nosso imenso país já foi capaz de produzir, e das quais o baiano aqui se sente impregnado. Porque esta é a terra também de Jorge de Lima - o poeta do qual hoje se diz haver nos legado uma obra “que permanece robusta e poderosa como um penhasco, na solidão incomparável do gênio”; de Lêdo Ivo, que será homenageado em setembro, na próxima Flimar, a Festa Literária de Marechal Deodoro - e cuja produção poética, monumental, está reunida num volume de mais de mil páginas, em edição da editora TopBooks, do Rio de Janeiro. De cepa tão vigorosa saiu ainda o jornalista e escritor Audálio Dantas – que será o patrono da próxima Bienal do Livro de Maceió, numa justa homenagem ao alagoano de Tanque D’Arca que tanto já brilhou, e continua brilhando, na imprensa e na vida artística de São Paulo, onde idealizou uma exposição de grande sucesso, chamada O chão de Graciliano, e de quem se aguarda a publicação de seu novo livro, que terá como protagonista o jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, que teve sua vida tragicamente interrompida nos porões da ditadura militar, um tempo negro da nossa História, do qual certamente vocês já ouviram falar.


Portanto, jovens escritores: como o lastro literário de vocês é um legado do próprio chão em que nasceram, reforço-o com duas flores do jardim do poeta português Alexandre O’Neill, os dois versos a seguir que lhes ofereço como um prêmio de incentivo às suas futuras criações:


Folha de terra, ou papel,
tudo é viver, escrever.


Mãos à obra.


Antônio Torres


Itaipava (Petrópolis, RJ), junho de 2011.





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