quarta-feira, 4 de maio de 2011

Cineas Santos - Ecos do Sertão

Faz um tempinho que, por minha conta e risco, venho tentando construir uma ponte cultural entre Teresina e o sertão do Piauí. Foi assim que nasceu o projeto A Cara Alegre do Piauí, em 1977. É ocioso dizer que os resultados alcançados ficaram muito aquém das expectativas. Nada de extraordinário: os sonhos voam; as pernas, quando muito, correm... O certo é, ao longo desses anos, nunca me passou pela cabeça a ideia de desistir da construção do necessário diálogo entre a capital e o interior.

         Agora mesmo, estou chegando do sertão - Canto do Buriti, São Raimundo, Anísio de Abreu e São João do Piauí - com a alegria de quem acredita no que faz. Posso lhes assegurar que, a despeito das dificuldades de toda ordem, há uma enorme efervescência cultural no interior do Piauí. Os pontos de cultura, presentes em toda parte, são pequenas usinas de beleza. Agregam jovens e adultos e evidenciam a importância da cultura como instrumento de resgate da cidadania e elevação da autoestima do povo.

         Das iniciativas culturais que vi, uma me deixou muito entusiasmado e feliz: trata-se do projeto EnCantadores  do Sertão,coordenado pelo prof. Gonçalo Carvalho Filho, em São João do Piauí. Como coordenador da Universidade Aberta do Brasil, Gonçalo resolveu envolver os alunos num projeto de grande alcance pedagógico e social. Em vez de teorias inócuas, experiências vivenciadas. O resultado não poderia ter sido mais feliz. Com poucos recursos, mas com enorme capacidade de trabalho, o grupo vem resgatando práticas culturais prestes a desaparecer. O projeto conta com o apoio da Associação Cidadania Verde, da Rádio e Portal São-joanense. Pelo menos uma vez por mês, o grupo se reúne na casa de um dos artistas da terra e realiza uma espécie de sarau onde cada um mostra o que pode e sabe fazer. Desses encontros, nasceram o CD do mestre Julimar do Pife e o DVD  Batuque do Brás. Trata-se de trabalhos artesanais, de aparência pobre, mas extremamente valiosos por contribuir para manter vivas tradições seculares. Dona Conceição Viana, de 77 anos de idade, traduz o sentimento dos batuqueiros: “A gente nasceu e se criou brincando com o Brás, a gente se considera uma grande família. O batuque do Brás nunca vai acabar porque nós somos muitos. Eu vou embora daqui a uns dias, mas têm os outros aí, os netos, os bisnetos, os tataranetos dele. Se ele fosse vivo,ficaria muito orgulhoso por estarmos dando continuidade ao trabalho dele”.

         Para quem acredita no poder restaurador da cultura, é gratificante ver o brilho nos olhos de figuras do naipe de Jonas, Dió, Dedício, Miltinho, Quibobô, Seu Berto , Xubéu e tantos outros. Gente simples que, com engenho e arte, faz jus ao título de encantadores do sertão. Longa vida a esse projeto luminoso.
        

Um comentário:

Toninho disse...

São pessoas assim que ainda nos dão a esperança de preservação e valorização de cultura e tradições, que realmente um projeto assim possa ser incentivado e divulgado para enraizar.Muito bom e interessante Tom.Um abraço.