quarta-feira, 13 de julho de 2011

O brega e a juventude

Hoje, remasterizando uns discos de vinil, os chamados “bolachões”, me reencontrei com a breguice de antigamente, que, perto das breguices de hoje, soam como músicas eruditas. Pelo menos, naqueles tempos, brega era a música melosa e romântica que se tocava no rádio e tinha um público fiel em qualquer ocasião. Os jovens de então, na vanguarda dos metais e sintetizadores, deixavam na retaguarda uma trilha sonora poética e melodiosa, chamada por eles de “música de velho”, esquecidos de que a música é arte, e a arte fica antiga, não envelhece.

Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Silvinho, Ângela Maria, Orlando Silva, Sílvio Caldas e muitos outros cantantes da serenata, eram os que recebiam a pecha de “brega” e eram desprezados pela turba jovem, sedenta de guitarra e distorção. Porém, para estes “bregas” ainda havia tolerância, pois restava algum resquício de infância ressoando na memória auditiva dos jovens ligando os laços musicais paternalistas. No entanto, havia outra vertente da música romântica, a mais moderna, representada por novos artistas que corriam à revelia da recente MPB. Eram chamados preconceituosamente de “cantores de empregada doméstica”, pois estas profissionais do lar gostavam de ligar o radinho de pilha em volume perturbador, sintonizado em emissoras AM (naqueles tempos não existia rádio FM.) de programação intragável e que constava na programação diária Odair José, Nilton César, Miss Lene, Gretchen, Diana, Fernando Mendes, Peninha, Moacyr Franco, Márcio Greyk e mais a jovem guarda que então se tornara brega, inclusive Roberto Carlos, que se salvou depois que virou especial de Natal, da Rede Globo, e que chegou ao final da década de 70 no auge da carreira, sendo que era chique, no fim de ano, presentear-se os amigos e parentes com o novo disco do “Rei”.

Mas voltemos aos bregas de antigamente, que não são os mesmos bregas de hoje. Naquele tempo nem “brega” existia. Dizia-se “cafona” a música que continha forte dialética sentimental, bem diferente dos atuais, que beiram o ridículo e carecem de conteúdo, mas encontram  grande receptividade nos jovens “cabeças ocas”, que deliram em êxtase nos pagodes, rodeios e blocos axés musicais da praga baiana que se espalhou por todo o Brasil feito erva daninha em terra devoluta.

Caetano Veloso, o ícone da nossa MPB, gravou Peninha (duas vezes) e Fernando Mendes e foi disco de ouro em menos de dois meses. Orlando Moraes gravou Odair José. Fafá de Belém gravou Waldick Soriano que foi gravado por meio mundo de gente, incluindo Maria Creuza, Altemar Dutra e Nelson Gonçalves. O maranhense Zeca Baleiro revelou ter sido fã de Waldick Soriano.

Pois é: a geração Hi-Fi vai envelhecendo e ficando besta, sensível e nostálgica, resmungando da juventude apática e caminhando no túnel do tempo na direção do passado, em busca de uma afirmação para a vida e de um sentido para a sua transitoriedade.

Afinal, em alguns instantes da nossa vida amamos os Beatles e os Roling Stones.



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