quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Cineas Santos - Tempo quente

Dileta amiga, sempre atenta às questões ambientais, postou no facebook uma pergunta que, de tão óbvia, dispensaria comentários. “Teresina está mais quente do que nunca?”. A resposta até as pedras sabem. A despeito disso, choveram comentários curiosos. Alguém sugeriu que a solução seria mudar-se para a serra, “Viçosa, talvez”. Um outro argumentou que “o problema se chama Suzano”. Não faltou quem apelasse para o humor: “Não sei responder porque o calor cozinhou meu cérebro”. Até aí, nada de extraordinário: o face é o local onde se descascam abobrinhas sem medo do ridículo. A questão é outra. Nenhum dos “comentaristas” nem sequer tocou na questão essencial: a destruição da cobertura vegetal da cidade. Consta que, ao sobrevoar Teresina na década de 30, o escritor Coelho Neto, impressionado com a exuberância do verde, teria agraciado a cidade com o título de “Cidade Verde”. Os teresinenses tomaram o elogio como ofensa e resolveram reduzir tudo a cinza. “Progresso se faz com trabalho e concreto”, afirmou um prócer da urbe.

Ainda não se fez um levantamento do número de árvores que se cortam diariamente em Teresina. Posso assegurar-lhes que é algo impressionante. Eliminam-se as árvores sob os mais diversos pretextos: “sujam os quintais” , “racham as calçadas”, “encobrem as fachadas”... É preciso que se diga: os gestores têm grande parcela de culpa nisso tudo. Até hoje não se fez um projeto sério de arborização da cidade. O que tivemos, até agora, foram “tendências”. Assim, houve o momento das algarobeiras, das acácias, do algodoeiro, do fícus. Agora, é vez do neen. Ora, o verde de Teresina sempre esteve concentrado nos quintais que, como era de se esperar, não resistiram à gula da especulação imobiliária. Onde ontem existia um quintal (recoberto de mangueiras e cajueiros), hoje rebrilha um edifício de linhas modernosas ou se esparrama um supermercado como nome chamativo. Na periferia da cidade, o chamado “cinturão verde” foi engolido pelas favelas, rebatizadas com o nome de “vilas”. A equação é simples: menos árvores, mais calor.

Para piorar a situação, a Prefeitura resolveu investir pesado no asfaltamento das ruas, notadamente na zona leste onde, supostamente, moram os “formadores de opinião”. Acrescente-se a isso o volume de veículos trafegando nas ruas, os aparelhos de ar-condicionado, as queimadas... 

Sem querer ser pessimista, recorro ao velho Millôr para deixar uma sugestão à dileta amiga que se queixa do calor de Teresina: “Se está ruim, aproveite; amanhã, pode estar pior”.


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