De Cenas de Cinema Luís Pimentel |
Para quem gosta de contar boas histórias, qualquer motivo é pretexto para contá-las, desde as tiradas de um filósofo de botequim, imagens de meninos que vendem sonhos, impressões de homens comuns que encontram vida no sexo de quem o vende barato, juras ao luar de casais de namorados e até lembranças de infância que jamais nos abandonam.
Para quem sabe contar boas histórias, um olhar, um objeto, um personagem, uma vida, uma cena qualquer a qualquer hora e em qualquer lugar se transforma em arte. E quem há de negar que é pura arte a vida, o sonho, as nossas melhores lembranças de infâncias, nossa visão de mundo?
Para quem gosta de ler e/ou ouvir boas histórias o livrinho (no tamanho) Cenas de Cinema – Conto em Gotas do baiano mais carioca do planeta Brasil, Luís Pimentel, é um livrão (na envergadura) recheado de vários tipos encantadores, em estado de desespero, no melhor da falta de sorte de quem precisa ler um horóscopo ou na pureza das várias histórias de meninos.
Para quem gosta de boas histórias vai gostar muito desse livrinho livrão. As cenas são de vida, mas são também da arte que imita a vida, que imita a arte. Cenas que caberiam num filme, mas são das pequenas grandes tragédias humanas que só um olhar sensível e amorosamente humano, pode captar e traduzir em gotas de bom humor, de esperança, de inconformismo com algumas cenas que somos obrigados a presenciar, viver.
Para quem gosta de escrever, contar, ler, ouvir histórias e ainda esteja no Rio de Janeiro, esse amigo querido lança o seu livrinho livrão cheio de encantadoras histórias no dia 20/12/2011, das 19 ÀS 22h na Livraria do Museu da República, Rua do Catete, 153, Rio de Janeiro.
Para quem gosta de contar, ler e ouvir boas histórias como eu e a turma aqui de casa, o livrinho livrão do querido amigo Luis Pimentel foi/é um lindo presente de Natal que recomendo. Deixo aqui uma das gotas do olhar sensível do autor.
ESQUECIMENTO
Debaixo do chuveiro, a água morna quase quente deslizando pelo corpo coberto de sabão, os olhos vermelhos quase brasa, ela esperava espantar naquele banho todas as manchas que os golpes, as baforadas e o suor dos músculos dele deixaram em suas veias.
Então começou pelos cabelos, disputados, o pescoço recheado de cinza e hematomas, o ventre murcho e exaustivamente palmeado, o sexo ávido, as mãos em concha sobre o sexo em sede, a esponja engordurada de xampu, as lâminas do creme rasgando o sexo, a saudade, a lembrança, a gosma e o sexo em fogo, a herança do sexo agora limpo e novamente sedado, condenado ao esquecimento.
Ao desligar o chuveiro, já tinha em mente o plano quase morte: ligar para ele novamente.
PIMENTEL, Luís. Cenas de Cinema – Conto em gotas, pág. 22 e 23
Sobre o autor
Baiano do sertão de Itiúba, onde nasceu em 1953, Pimentel chegou ao Rio para estudar teatro e acabou se tornando jornalista e escritor. Como jornalista, trabalhou no Pasquim (1976/77), Pasquim21 (2002), na edição brasileira da revista americana de humor MAD, na Rio-Gráfica e Editora e no jornal Última Hora. Foi articulista do jornal carioca O Dia e colunista do virtual Jornal de Copacabana, entre outras colaborações. Com várias dezenas de livros publicados, entre infantis, de humor (Entre Sem Bater: o Humor na Imprensa Brasileira), biografias (Wilson Batista, Luiz Gonzaga), contos (Contos para Ler Ouvindo Música), poesia e ficção, Pimentel coleciona prêmios literários. Entre eles, o Prêmio Cruz e Sousa, por Grande Homem Mais ou Menos, e o Prêmio Jorge de Lima, com as poesias de As Miudezas da Velha. Pimentel também escreveu roteiros para programas humorísticos de TV, como Escolinha do Professor Raymundo e Zorra Total. Seu mais recente trabalho na área editorial é a coordenação da edição de Paixão e Ficção – Contos e Causos de Futebol, do qual participa ainda com um dos textos, ao lado de Aldir Blanc, Armando Nogueira, Mário Filho, Renato Maurício Prado e Zico. No livro Zico, conta como foi o dia em que Ronaldo teve uma convulsão, na Copa da França. A produção tão profícua do escritor não supera em dedicação o amante da MPB. Razão pela qual ele mantém no ar, com dificuldades, mas com vontade, a revista Música Brasileira.
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