Tempos atrás, lendo um texto num desses sítios de literatura - cuja autora assina como Francisquini - falando das generalizações no universo feminino, ela se surpreendeu quando uma consultora de moda afirmou que “toda mulher sonha em perder dois quilos”.
Não é para menos o seu espanto. Nos anos oitenta tive uma namorada que prometeu subir a Ladeira do Bonfim, de joelhos, caso engordasse vinte quilos. Sonhava ser uma pessoa magra e comprar roupas na seção feminina, como todas as suas amigas. Infelizmente, a magreza era tanta, tanta, que comprava roupas nas seções infantis e usava Band Aid como absorvente íntimo.
Dá-lhe, Francisquini, mineira de boa cepa! Emagrecer dois quilos, engordar vinte ou permanecer como está, é um estado de espírito e não uma exigência natural feminina! Assim como nem todo mineiro é um come-queijo ou um come-quieto. O mineiro é um baiano cansado que sonha com o mar. Volta e meia tenta incorporar o município baiano de Alcobaça ao território de Minas Gerais. Alcobaça é a utopia mineira. É o mar.
Dizia Gordurinha que o Brasil foi descoberto na Bahia e o resto é interior. Mas já sabemos que o paulista é um baiano apressado, que acorda de madrugada para movimentar as engrenagens do progresso. Tenho uma amiga que sai de casa às cinco da matina para bater ponto às nove horas. Às vezes chega atrasada no batente e tem os minutos descontados do salário. Por causa disso, nunca sobra dinheiro para botar gasolina na fubica e ir ao zoológico com o namorado dar pipoca aos macacos. Aliás, com correria tanta, os homens fogem dela como o Diabo foge da cruz.
A diferença do Rio de Janeiro para Salvador é o Pão de Açúcar, com a Urca no meio. O carioca é um baiano que não deu certo, que se acha malandro de gafieira, mas adora dançar a maior invenção baiana, depois do trio elétrico: o samba, que nasceu no Recôncavo e se mudou para o Rio de mala e cuia, porque, como sabemos, santo de casa não faz milagre. O carioca inventou e exportou a mania excêntrica de se beber Coca-Cola com gelo, mesmo estando o xarope americano empedrado no vasilhame. Fazendo o caminho inverso em busca do DNA primitivo, convenceu o baiano a comer acarajé acompanhado de Coca-Cola, na mais estranha e esquisita mistura cultural.
O baiano é preguiçoso por natureza e leva quinze dias para morrer de repente. Seu lema é: “nunca faça hoje o que pode ser feito amanhã”. Menos filho, claro. Por isso é o estado brasileiro que mais cresce demograficamente.
Em verdade o baiano não é preguiçoso. Ele apenas gosta de gozar dos prazeres da vida consumindo o mínimo de energia possível. Quando chega o carnaval ele precisa de toda reserva energética para subir a Ladeira do Pelô catando lata ou puxando corda nos blocos de trios para que os turistas se divirtam com segurança e o frenesi movimente o bailado da sedução em mistura de ritmo, suor e cerveja.
Mas vamos ao ápice da polêmica: se até aqui alguém achou que fiz apologia às generalizações, ótimo, a intenção é essa mesma. Para mostrar ao leitor que, generalizar como certos doutores ou doutoras da inutilidade fazem, nos torna ditadores verbais.
2 comentários:
Perfeito! Como disse Nelson Rodrigues: "Toda unanimidade é burra"!
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