Se vivo fosse, Luiz Gonzaga
exclamaria furioso do alto do seu centenário: “Até tu, Caruaru?!” E proferiria
impropérios contra a avacalhação das festas juninas no Nordeste, que estão se
tornando extensão do carnaval baiano, dos rodeios e suas músicas sertanejas.
Tida e havida como a capital
do forró, Caruaru, no agreste pernambucano, este ano inovou nas tradições
juninas, levando à Praça do Forró gente que passa ao largo da zabumba e da sanfona:
Chiclete Com Banana, Asa de Águia, Psirico, Harmonia do Samba, Victor e Léo, Michel
Teló, Matheus e não sei quem e mais uma dezena de duplas de dois as quais não
conheço e não tenho a menor intenção de conhecer. Os forrozeiros ficaram a ver
navios, e não foi o Riacho que se tornou famoso na voz do rei do baião.
Alagoas seguiu o mesmo
caminho na contramão das manifestações joaninas, exceto os municípios arrasados
pela seca. Na Bahia, muitos prefeitos de cidades pequenas acostumados a gastar
milhões nas festas juninas, vigiados de perto pelo Tribunal de faz de conta, sentiram
o peso da austeridade vigiada e contrataram sanfoneiros locais, alguns, bons;
outros, ruins de dar dó. Ou não contrataram ninguém e o povo teve que se virar
num São João à moda antiga, daquela de se visitar os amigos em suas casas,
coisa desconhecida dos nossos filhos e netos.
A tradicional fogueira saiu
do cardápio e alguns casamentos deixaram de se realizar. O amendoim e o milho
verde também sumiram da mesa. O licor, cada vez mais caro e com gosto de sabão,
está virando artigo de luxo. E assim caminhamos a passos largos para a “sulinização” de nossa festa maior, ou
seja, o mês de junho será apenas um mês de chuva e frio, porque, felizmente, os
sacripantas ainda não conseguiram tirar o Inverno do calendário gregoriano.
Mas não se enganem não que
esse dia vai chegar. As sanfonas silenciarão e o arrasta-pé cederá ao “tira o
pé do chão” de trios elétricos endiabrados com suas guitarras distorcidas. Por isso deixo aqui o registro de um foco de
resistência cultural que acontece todos os anos no São João do arraial do
Junco: o Casamento da Rosinha organizado pelo meu primo Arizio Torres e a voz
deliciosa de Lia de Bispão, a sobrevivente da derrocada do forró.
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