Aproximava-se
a data dos jogos universitários e um dilema formara-se na delegação da UFAL:
quem poderia defender com garra e entusiasmo a bandeira da natação? Havia de tudo na Universidade, menos, bons nadadores. Conversa
daqui, briga dali, acusações mútuas de “porco chauvinista”, o jargão da época, quando
uma luz milagrosa se acendeu:
-
Por que não escolhemos o Juvenal? Ele nasceu e se criou comendo sururu na beira
da Lagoa Mundaú, em Fernão Velho, deve ser um exímio nadador, um verdadeiro
campeão.
-
Isso, isso, isso! – pela primeira vez havia unanimidade nas diversas correntes
ideológicas estudantis.
Juvenal
topou a parada. Prometeu ser medalhista em Belo Horizonte, capital-sede dos
jogos. No dia e hora da prova, a torcida da UFAL era toda do Juvenal. Era
medalha de ouro na certa. Acostumado a atravessar a nado os mais de mil metros que separam o bairro de Fernão Velho da cidade de Coqueiro Seco, na outra
margem da Lagoa Mundaú, não ia esfarrapar justamente quando mais se necessitava de suas
braçadas.
Dado
o tiro de largada, Juvenal pulou de cabeça na raia da piscina, afundou, emergiu,
ficou em pé e retornou apavorado para a beirada. Uma vaia estrondosa ecoou no parque aquático. A mãe de Juvenal não saía da boca dos seus colegas. Enfiou a cabeça dentro d'água, achando que podia se esconder, mas faltou ar. Deu uma pirueta no ar, saiu da água e desapareceu no meio
da multidão. Alguns alagoanos correram atrás, para tirar satisfação, mas
só voltaram a encontrar o campeão na semana seguinte, na Universidade.
Isolado
dos colegas como se portador de doença contagiosa, acusado pelo Tribunal da Contra-Revolução de porco
chauvinista traidor da pátria estudantil e entreguista militante da Direita a serviço do imperialismo americano, Juvenal
ainda viveu um inferno astral para não ser jubilado a menos de um ano para colar grau: a UNE queria a sua cabeça numa
bandeja, tal qual Salomé quis a de João Batista.
Muito
tempo depois, já formado em Educação Física e fazendo bico como instrutor de
natação, tomou um porre e desabafou a um colega que também fez parte daquela
delegação:
-
Naquele fatídico dia achei de vestir um short novo que havia comprado na Mesbla
de Belo Horizonte, pois o meu estava com um buraco bem naquele lugar. Caí na besteira de vestir o short sem uma sunga por baixo e
na hora que mergulhei ele foi arrastado pela água e, quando tentei dar a
primeira braçada, senti que estava nu. Se eu continuasse, minha bunda ia aparecer
e o short ia ficar pra trás. Por isso que saí daquele jeito, arrastando o short
entre as pernas até a beira da piscina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário