Em mais de uma oportunidade, afirmei que, ao longo da vida,
tenho sido apenas um camelô da boa literatura produzida pelos outros. Como
leitor, professor, editor, procurei sempre difundir e louvar o que deve ser
louvado, como queria o poeta. Com a palavra Salgado Maranhão, uma das vozes
mais consequentes da moderna poesia brasileira:
Sou
da terra
dos
tambores que falam.
E
guardo no corpo a memória
que
acorda o silêncio.
Eu
vi a lua descer
para
assistir minha mãe
dançar.
Passei
a infância
correndo
atrás do sol,
pés
descalços pelos matagais
por
entre cascavéis e beija-flores
cedo
aprendi o milagre
das
sementes: minha mãe
abria
a terra
e
eu semeava os milharais
os
campos de arroz e as colheitas.
Sou
um negro
orgulhosamente
bem-nascido
à
sombra dos palmares.
Eu tenho os olhos na espreita
e
os bolsos cheios de pedras,
eu
sou quem não se conforma
com a sentença ou desfeita,
eu
sou quem bagunça a norma,
eu
sou quem morre e não deita.
Quando você estiver lendo essa colagem que fiz com os poemas
de Salgado, nosso irmão estará voando para os Estados Unidos onde lançará “Sol
Sanguíneo” em 52 universidades americanas. Justa colheita para quem apostou
tudo na poesia, esse nada que, para alguns, é tudo.
Um comentário:
Que o voo seja cada vez mais belo e ousado.
Sucessos e que seja cá na terra das bananas reconhecido com todas honras de um poeta que acreditou.
Um abração Tom.
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