Um dos maiores cariocas de todos os tempos não era carioca. Era mineiro,
de Ubá, nascido num mês de novembro (dia 7), em 1903. Se vivo estivesse, no
próximo ano completaria 110 primaveras musicais. Homem de mil instrumentos – foi pianista de
cinema, cronista, locutor de rádio, jornalista, advogado, vereador na Câmara
Municipal do Rio e, sobretudo, compositor, Ary levou a música brasileira para
diversas partes do mundo.
O grande sucesso de Ary Barroso é de 1939. Temperada com “mulato
inzoneiro”, “merencória luz da lua”, “fontes murmurantes”, “coqueiro que dá
coco”, “Brasil lindo e trigueiro” e outros condimentos exóticos, a famosa Aquarela estourou no Norte. E também no
Sul, no Sudeste, no Nordeste e até nos Estados Unidos, graças a um tal Mr.
Disney. O desenhista norte-americano Walt Disney veio ao Brasil produzir um
desenho animado tropical – Alô, amigos
– com o personagem Zé Carioca. Aquarela
do Brasil foi escolhida como fundo musical. Depois, Ary conseguiu emplacar,
na mesma fita: Você já foi à Bahia?, Os
quindins de iaiá e No tabuleiro da
baiana. Pouco depois, já bastante famoso, estava nos Estados Unidos, onde
musicou diversos filmes em Hollywood, participou de festas memoráveis ao lado
de Carmen Miranda e retornou ao Brasil resmungando a ausência do Flamengo, seu
time do coração.
Duas atividades distintas também se encarregaram de fazer o Brasil amar
Ary Barroso, além da música: a narração esportiva e a animação dos programas de
calouros. Na primeira, ficou famoso entre geraldinos, arquibaldos (o público da
geral e das arquibancadas) e radiouvintes pela gaitinha-de-boca usada para os gols
e por sua paixão rubro-negra, responsável por desatinos como abandonar o
microfone para comemorar as vitórias no gramado, ao lado de dirigentes e
jogadores. Da segunda atividade ficaram, nos anais das emissoras de rádio, as
broncas homéricas em candidatos a cantores. Muita gente hoje famosa levou
espinafração ao vivo de Ary Barroso.
No carnaval de 1964 a Escola de Samba Império Serrano escolheu como
enredo o tema Aquarela Brasileira,
cujo samba-enredo, de Silas de Oliveira, começa assim: “Vejam essa maravilha de
cenário/É um episódio relicário/Que o artista num sonho genial/Escolheu para
este carnaval/E o asfalto, como passarela/Será a tela do Brasil em forma de
aquarela”. Pouco antes de a escola pisar na avenida, chegou a notícia: Ary
Barroso morreu. Quem assistiu garante que a Império conseguiu, apesar de tudo,
fazer um belo carnaval.
Em 2004 a Império Serrano desfilou com o mesmo samba-enredo,
homenageando os vinte anos do Sambódromo.
3 comentários:
Poizé, Tom e Luís Pimentel. Sobre esse argumento de carioca que não era carioca, lembro-me sempre de uma das mais lindas músicas em homenagem ao Rio de Janeiro, intitulada "Valsa de Uma Cidade", cujo autor chamava-se Antônio Maria, e era pernambucano, de Recife.
Exato. Tenho o disco aqui.
Olá,
Achei esse post enquanto procurava assuntos relacionados ao Ary Barroso. Muito bacana!
Abraços,
Lu Oliveira
www.luoliveiraoficial.com.br
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