sábado, 13 de outubro de 2012

Luís Pimentel - Ary na aquarela carioca



     Um dos maiores cariocas de todos os tempos não era carioca. Era mineiro, de Ubá, nascido num mês de novembro (dia 7), em 1903. Se vivo estivesse, no próximo ano completaria 110 primaveras musicais.  Homem de mil instrumentos – foi pianista de cinema, cronista, locutor de rádio, jornalista, advogado, vereador na Câmara Municipal do Rio e, sobretudo, compositor, Ary levou a música brasileira para diversas partes do mundo.

     O grande sucesso de Ary Barroso é de 1939. Temperada com “mulato inzoneiro”, “merencória luz da lua”, “fontes murmurantes”, “coqueiro que dá coco”, “Brasil lindo e trigueiro” e outros condimentos exóticos, a famosa Aquarela estourou no Norte. E também no Sul, no Sudeste, no Nordeste e até nos Estados Unidos, graças a um tal Mr. Disney. O desenhista norte-americano Walt Disney veio ao Brasil produzir um desenho animado tropical – Alô, amigos – com o personagem Zé Carioca. Aquarela do Brasil foi escolhida como fundo musical. Depois, Ary conseguiu emplacar, na mesma fita: Você já foi à Bahia?, Os quindins de iaiá e No tabuleiro da baiana. Pouco depois, já bastante famoso, estava nos Estados Unidos, onde musicou diversos filmes em Hollywood, participou de festas memoráveis ao lado de Carmen Miranda e retornou ao Brasil resmungando a ausência do Flamengo, seu time do coração.

     Duas atividades distintas também se encarregaram de fazer o Brasil amar Ary Barroso, além da música: a narração esportiva e a animação dos programas de calouros. Na primeira, ficou famoso entre geraldinos, arquibaldos (o público da geral e das arquibancadas) e radiouvintes pela gaitinha-de-boca usada para os gols e por sua paixão rubro-negra, responsável por desatinos como abandonar o microfone para comemorar as vitórias no gramado, ao lado de dirigentes e jogadores. Da segunda atividade ficaram, nos anais das emissoras de rádio, as broncas homéricas em candidatos a cantores. Muita gente hoje famosa levou espinafração ao vivo de Ary Barroso.

     No carnaval de 1964 a Escola de Samba Império Serrano escolheu como enredo o tema Aquarela Brasileira, cujo samba-enredo, de Silas de Oliveira, começa assim: “Vejam essa maravilha de cenário/É um episódio relicário/Que o artista num sonho genial/Escolheu para este carnaval/E o asfalto, como passarela/Será a tela do Brasil em forma de aquarela”. Pouco antes de a escola pisar na avenida, chegou a notícia: Ary Barroso morreu. Quem assistiu garante que a Império conseguiu, apesar de tudo, fazer um belo carnaval.

      Em 2004 a Império Serrano desfilou com o mesmo samba-enredo, homenageando os vinte anos do Sambódromo.

3 comentários:

barrabaz de sátiro dias disse...

Poizé, Tom e Luís Pimentel. Sobre esse argumento de carioca que não era carioca, lembro-me sempre de uma das mais lindas músicas em homenagem ao Rio de Janeiro, intitulada "Valsa de Uma Cidade", cujo autor chamava-se Antônio Maria, e era pernambucano, de Recife.

Tom Torres disse...

Exato. Tenho o disco aqui.

Lu Oliveira disse...

Olá,
Achei esse post enquanto procurava assuntos relacionados ao Ary Barroso. Muito bacana!
Abraços,
Lu Oliveira
www.luoliveiraoficial.com.br