sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Luís Pimentel - O homão e o menininho (uma fábula)

     Era uma vez um menininho muito magrinho e pequenino. Desses que não engordaram porque comeram pouco quando eram menores ainda. Desses que têm menos idade do que aparentam e são bem menores do que poderiam ser, considerando a idade que têm.

     O menininho saía de casa bem cedo, carregando uma mochila cheia de livros, cadernos e umas bolas de tênis bem velhas, encontradas num lixo qualquer. Os livros e cadernos eram para uso na escola, mas antes da aula ele parava no sinal de trânsito e sacava os instrumentos de trabalho. Toda vez que o sinal ficava vermelho o menino pulava na frente dos carros, jogando as bolas para cima e para baixo, de um lado para outro, levantando com uma mão e aparando com a outra. O menino pensava que estava oferecendo um espetáculo circense e que por isto merecia uns trocados. Alguns motoristas achavam bonitinho e engraçado e davam umas moedas para ele. Outros não davam a menor atenção, nem mesmo um sorriso.

     O menininho fazia isto porque era muito pobrezinho. Pobrezinho mesmo, que nem esse monte de menininhos que anda bestando aí pelas ruas nas grandes cidades. E era muito feinho. Magrinho, pobrezinho, feinho e desdentadinho. Tinha apenas uns dois ou três dentinhos, todos bastantes esburacados e em péssimo estado de conservação. Andava esculhambadinho que só vendo. Aquelas roupinhas esfarrapadas, com uns remendos na bundinha e nas costas, uma lástima. 

     Um dia, o menininho vinha distraído por uma calçada, contando as moedas e planejando as futuras investidas no sinal, quando deu de cara com um homão grandalhão. Um homão grandalhão e gordão, bem barrigudão, com os dentões todos na boca. Passou a mão enorme na cabeça sujinha do menininho e perguntou:

 – Garoto, quem é teu pai?

O moleque abriu um sorrisinho bem safado e respondeu:

 – O senhor!

Do livro “O homão e o menininho” (Editora Abacate), selecionado pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola 2013


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