Em boa hora, por iniciativa do ICC, CAU/PI e IAB/PI,
realizou-se em Teresina, na semana passada, a 2ª edição do Teresina Sustentável, tendo como objetivo “discutir os caminhos do
urbanismo e da arquitetura na cidade”. O momento não poderia ser mais oportuno:
no próximo mês, a capital do Piauí terá nova administração e a necessidade
premente de pensar e realizar ações capazes de, pelo menos, minimizar os
problemas que nos afligem.
A exemplo de outras capitais brasileiras, Teresina não está
crescendo; está inchando. Sem
planejamento sustentável, a cidade incorre nos mesmos erros que inviabilizam as
metrópoles do país. O problema mais visível é do trânsito: caótico, ruidoso,
violento. Por falta de soluções inteligentes, os gestores insistem na ideia
superada de alargar ruas, rasgar novas avenidas, construir viadutos, o que implica diminuir os espaços destinados aos pedestres. A cada
“requalificação” de uma praça ou avenida, subtrai-se uma nesga das áreas
destinadas aos sem-carro. Foi assim
na Praça Saraiva (que corre o risco de ser dividida), na Praça da Bandeira; na
Praça do Marquês, para citar apenas alguns exemplos. A cidade está sendo
deformada para “facilitar” o fluxo dos automóveis que disputam cada polegada de chão
com a fúria de mil demônios.
O Código de Postura
parece ter sido elaborado para ser desrespeitado. Assim, casarões de relevante
valor histórico ou arquitetônico desaparecem na calada da noite, dando lugar a
edifícios modernosos ou estacionamentos. As calçadas, estreitas, irregulares, esburacadas,
põem em risco a saúde dos transeuntes. Acessibilidade não passa de um vocábulo,
recém-descoberto, levianamente empregado em discursos oficiais.
Os problemas não param por aí: o tal “cinturão verde” de
Teresina converteu-se num rosário de favelas, rebatizadas com o nome de
“vilas”, como se o substantivo tivesse o condão de melhorar a vida dos que
sofrem ali. A cobertura vegetal da cidade desaparece rapidamente engolida pela
especulação imobiliária. O que resta do verde essencial, notadamente nos
espaços públicos, apresenta problemas muito sérios: as árvores de Teresina
estão doentes, infestadas de erva-de-passarinho, corroídas por cupins ou
mutiladas por podas irresponsáveis. Quanto aos dois rios que banham a cidade, há
bastante tempo, foram transformados em escoadouro de efluentes indesejáveis.
Como se pode ver, em matéria de problemas Teresina está “bem servida”.
Curiosamente, na conferência de abertura do Teresina Sustentável, no dia 6, não vi
nenhum representante da Prefeitura de Teresina ou do Governo do Estado. A bem
da verdade, não avistei ninguém com poder político para alterar coisa alguma.
Um tantinho desencantado, pensei comigo: ou esses iluminados já sabem tudo ou não estão interessados em aprender
nada.
Um comentário:
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