Queria lhe dizer que a fila
anda, amor, mas não posso. Faz meia hora que estou parado aqui, ouvindo a
desculpa de que “o sistema está fora do ar”. Sistema fora do ar é a nova
palavra do milênio, amor. E só acontece quando estou na fila. A sorte é que tem
um expert em asteroide aqui e ele está explicando que essa pane no computador
da Caixa Econômica talvez seja influência desse asteroide de quinhentas mil
toneladas que está passando perto da Terra. Como?! Não, ele que disse que
pesava quinhentas mil toneladas, amor. E eu vou lá querer saber quantas
toneladas são! Um senhor, atrás de mim, interrompeu o professor e perguntou
admirado: “Como é que um bicho pesado desse consegue avuar?!” O especialista em
asteroide não soube explicar e eu respondi ao senhor que lá no espaço ele não
pesa nada. Um garotão, com pinta de universitário, veio em socorro também:
“Esse peso é se fosse aqui na Terra, tá ligado? Por causa da gravidez”. Não
ria, amor, que eles podem ouvir. O senhor atrás de mim agradeceu a explicação.
Outro, à minha frente, perguntou ao astrofísico se era verdade que o mundo ia
se acabar. Vai, respondeu ele. E a NASA já sabe. A NASA tem um telescópio lá em
cima, depois das nuvens, muito depois, que diz tintim por tintim o que acontece
no mundo. O tal do Rambo. “Já ouvi falar nesse filme”, disse outro mais à
frente. Ah! Não! - disse o astrólogo. Manja um binóculo, aquele troço que a
gente coloca no olho e tudo fica perto, bem pertinho, que a gente pode até
pegar com a mão? Esse Rambo é como se fosse um binóculo desse, gigante, bem
gigante, e enxerga até o fim do mundo. Mas só em linha reta.
Estou pasmo, amor. Morrendo
de rir e me contendo. A conversa agora descambou para a genética. O professor
perguntou ao senhor que se admirou com o voo rasante do asteroide se ele já
tinha lido sobre a Arca de Noé. “Sim”, respondeu. Pois então... só foi possível
Noé salvar os animais porque havia poucos animais naquela época. Agora não. Agora
são milhares e seria preciso mais de mil arcas. Mas a NASA descobriu o genoma
dos animais e está guardando tudo em laboratório. Genoma é uma célula que
reproduz os seres vivos. Se houver outro dilúvio, não será preciso construir
outra arca. Vai tudo dentro dos frasquinhos e aí eles fazem o cruzamento no
laboratório.
Pois é, amor. Fila de
loteria também é cultura. Agora a fila anda, amor. Vou perder o fim da
conversa, que é sobre o submarino nuclear que os cientistas construíram para
guardar os genomas e se salvar no próximo dilúvio. Mas amanhã eu volto, amor. O
professor tem cara de filamaníaco. O
quê?! E eu vou lá saber se essa palavra existe! Eu aqui ouvindo altos papos
sobre o Dilúvio e você preocupada com uma palavrinha à toa! Amanhã quem vem pra
fila é você!
2 comentários:
Oiii Tom! Bem , na verdade eu pensei de início que ele queria usar a mesma desculpa pra mulher dele...seria engraçado. Hoje muita gente dá essa desculpa neh...em casa dizem que a internet caiu e que não voltou rss é a mesma coisa! Foi ótimo! Aquele conto que li da primeira noite de amor é mais romântico heim rsrss beijosssss Junya Paula
rsrs. Desculpe. Foi o mais romântico que achei. Vou procurar outro.
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