domingo, 3 de março de 2013

Olha a banana... Olha o bananeiro!




Quando eu era adolescente e sobrevivia por conta e risco do meu suor juvenil para poder ter uns trocados para levar a namorada ao cinema, resolvi ser feirante na feira livre de Alagoinhas. Comprei um megafone fiado, para pagar em não-sei-quantas prestações semanais, e todos os dias apregoava meus produtos:

- Ovo e uva boa de Jundiaí! Aqui, mulher bonita não paga!

A propaganda é alma do negócio, dizia meu tio Edgard, dono de um armazém de secos e molhados e meu principal (e único) fornecedor de mercadorias. Um dia qualquer, como em qualquer dia, pisei em rastro de corno no caminho da feira. Mal comecei a falar no megafone, recebi um safanão no pé do ouvido que fiquei zonzo. Uma senhora esbravejou feito galo de briga:

- Seu moleque safado, eu lhe dei essa ousadia de ficar tirando graça comigo?!
- Eu?!
- Sim... Você!
- Mas o que foi que eu fiz?!
- Me chamando de viúva boa!
- Eu?! Só estou anunciando meus produtos: ovo e uva.
- Você não conhece cacófato não, seu moleque! Diga o contrário: uva e ovo!
- Desculpe moça, mas não conheci seu marido não... como é mesmo o nome dele? Ah! Cacófato! A senhora deve estar me confundindo com alguém.
- Deixa pra lá! Já vi que você é burro mesmo! – disse, e escafedeu-se no meio da multidão de feirantes. E tudo continuou como dantes no quartel de Abrantes:

- Ovo e uva boa de Jundiaí! Mulher bonita não paga!

- Ei! Se é assim, eu vou levar a uva – falou uma jovem, caminhando na minha direção.
- Assim como, moça?
- “Mulher bonita não paga”...

Realmente ela era a “prinspa” que todo marmanjo queria, a nora que a minha mãe precisava, mas eu não podia ficar no prejuízo. Eu e a minha língua! Pensei rápido:

- Ah! Mas quem disse que a senhorita é bonita?
- Meus pais, meus amigos, meus primos, todo mundo que me conhece...
- E você se convenceu disso?
- Foi.
- E se eles estiverem mentindo para lhe agradar?
- Estão não.
- Como é que você sabe?
- Sabendo, ora!
- Então tá certo. Mas, pelo regulamento da barraca, você tem que provar que realmente é bonita. Você já ganhou algum concurso de miss?
- Não.
- Já saiu pelada na Playboy? Ele & Ela? Penthouse?
- Não.
- Então leve esse cacho de uva como prêmio de consolação, porque a simples palavra de pais e amigos não é o suficiente. Tem que ter documento oficial provando a beleza.

Ela fez beicinho de desconsolada, chupou a uva, gostou, comprou uma caixa, e no outro sábado estava lá para jogar conversa fora. E de sábado em sábado essa história só não terminou em casamento porque chegou um gaúcho de três facas vendendo uva mais gostosa do que a minha.


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