domingo, 7 de julho de 2013

Cineas Santos - Para preservar o azul



         No Brasil,quando se quer dizer que as coisas andam bem, diz-se simplesmente: “tudo azul”. Para mim, mais que uma cor, o azul é a cor; os mais são nuances. Como se sabe, visto de longe, tudo é efetivamente azul. Yuri Gagarin confirmou essa verdade ao contemplar a Terra do espaço, em 1961. Segundo o pintor Antônio Amaral, essa minha fixação no azul se deve ao fato de, durante algum tempo, ter vivido no sertão do  Caracol onde só havia o cinza do chão e o azul do céu. A tese não é destituída de fundamento. Mas vamos ao que interessa.

         A escritora Suzana Vargas tinha conferência agendada em Caxias (MA) no dia primeiro do mês em curso. Os organizadores do evento,por razões que desconheço, compraram  a passagem na Azul, companhia aérea relativamente nova no Brasil. Para não maçar meus três leitores além da conta, vou resumir tudo numa única expressão: uma via-crúcis, para dizer o mínimo. Suzana deveria ter vindo na sexta, a passagem foi remarcada para o sábado e, depois de um dia inteiro no aeroporto, chegou a Teresina no domingo às 17 horas. Até aí, apenas “um transtorno normal” num país que não tem maior apreço pelo consumidor. O pior ainda estava por vir, ou melhor, por acontecer: a mala da escritora não saiu do Rio de Janeiro. Suzana chegou; a bagagem, não.  Imagine o constrangimento de chegar a uma cidade estranha sem em lenço de cabeça. Na mesma situação da conferencista, duas humildes cidadãs de Capitão de Campos. Uma delas, não cansava de repetir: “Meu Deus, minha blusa nova que comprei ontem e o meu perfume que nunca usei...” Pode-se argumentar que, no Brasil, extravio de bagagens não chega a ser algo insólito ou inusual,como diria o poeta Salgado Maranhão.

         Inusual, pelo menos para o meu gosto, foi a forma como um funcionário da empresa, rapaz implume, mas com a arrogância de um sultão, tratou as três cidadãs. Lá pelas tantas, levantou a voz e disse: “Extravio ou perda de bagagens é a coisa mais comum em todas as empresas aéreas do Brasil”. Aí, não me contive: Se é assim, meu caro mancebo, o passageiro deveria ser informado, antes de comprar a passagem, de que a empresa que o transporta não se responsabiliza pela bagagem de ninguém. O moço levantou a voz. Tive de enquadrá-lo com um punhado de “gentilezas”.

         Suzana e as duas cidadãs preencheram fichas quilométricas, descreveram as características e os conteúdos das malas, deixaram telefones e endereços para serem avisadas caso as  bagagens resolvessem aparecer. Pediram também o meu telefone. Por volta do meio-dia da segunda-feira, Suzana foi ao aeroporto de Teresina e a mala já estava lá. Ninguém teve a delicadeza de nos avisar.

         Por essas e outras viajo pouco, muito pouco. Na Azul, nem com a passagem de graça. Não quero passar a odiar o azul por causa de uma empresa que desrespeita os direitos elementares de quem a mantém no ar.
        

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