No Brasil,quando se quer dizer que as coisas andam bem,
diz-se simplesmente: “tudo azul”. Para mim, mais que uma cor, o azul é a cor; os mais são nuances. Como se sabe,
visto de longe, tudo é efetivamente azul. Yuri Gagarin confirmou essa verdade ao
contemplar a Terra do espaço, em 1961. Segundo o pintor Antônio Amaral, essa
minha fixação no azul se deve ao fato de, durante algum tempo, ter vivido no
sertão do Caracol onde só havia o cinza
do chão e o azul do céu. A tese não é destituída de fundamento. Mas vamos ao
que interessa.
A escritora Suzana Vargas tinha conferência agendada em
Caxias (MA) no dia primeiro do mês em curso. Os organizadores do evento,por
razões que desconheço, compraram a passagem
na Azul, companhia aérea
relativamente nova no Brasil. Para não maçar meus três leitores além da conta,
vou resumir tudo numa única expressão: uma via-crúcis, para dizer o mínimo.
Suzana deveria ter vindo na sexta, a passagem foi remarcada para o sábado e,
depois de um dia inteiro no aeroporto, chegou a Teresina no domingo às 17
horas. Até aí, apenas “um transtorno normal” num país que não tem maior apreço
pelo consumidor. O pior ainda estava por vir, ou melhor, por acontecer: a mala
da escritora não saiu do Rio de Janeiro. Suzana chegou; a bagagem, não. Imagine o constrangimento de chegar a uma
cidade estranha sem em lenço de cabeça. Na mesma situação da conferencista,
duas humildes cidadãs de Capitão de Campos. Uma delas, não cansava de repetir:
“Meu Deus, minha blusa nova que comprei ontem e o meu perfume que nunca
usei...” Pode-se argumentar que, no Brasil, extravio de bagagens não chega a
ser algo insólito ou inusual,como diria o poeta Salgado Maranhão.
Inusual, pelo menos para o meu gosto, foi a forma como um funcionário
da empresa, rapaz implume, mas com a arrogância de um sultão, tratou as três
cidadãs. Lá pelas tantas, levantou a voz e disse: “Extravio ou perda de
bagagens é a coisa mais comum em todas as empresas aéreas do Brasil”. Aí, não
me contive: Se é assim, meu caro mancebo,
o passageiro deveria ser informado, antes de comprar a passagem, de que a
empresa que o transporta não se responsabiliza pela bagagem de ninguém. O
moço levantou a voz. Tive de enquadrá-lo com um punhado de “gentilezas”.
Suzana e as duas cidadãs preencheram fichas quilométricas,
descreveram as características e os conteúdos das malas, deixaram telefones e
endereços para serem avisadas caso as
bagagens resolvessem aparecer. Pediram também o meu telefone. Por volta
do meio-dia da segunda-feira, Suzana foi ao aeroporto de Teresina e a mala já
estava lá. Ninguém teve a delicadeza de nos avisar.
Por essas e outras viajo pouco, muito pouco. Na Azul, nem com a passagem de graça. Não
quero passar a odiar o azul por causa de uma empresa que desrespeita os
direitos elementares de quem a mantém no ar.
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