domingo, 28 de julho de 2013

UM CAPITÃO NO CANGAÇO




Aproveitando o aniversário de morte do famigerado Lampião, hoje contarei, para quem não sabe, como o rei do cangaço se tornou Cavaleiro de Sua Majestade, a Caatinga, ou seja, de como ganhou patente de capitão do Exército e saiu por aí exibindo suas divisas oficiais para uma população temerosa e incrédula com o novo poder investido no chefe do cangaço, senhor Virgulino, de Águas Belas, Pernambuco.

– Virgulino não! Capitão Virgulino Ferreira!

Nos tempos em que as missas eram rezadas em Latim, Padre Cícero Romão Batista, o Padim Ciço de Juazeiro do Norte, além das atividades eclesiásticas, exercia a função de grande latifundiário e de maior líder político do Ceará e das redondezas nordestinas, sendo raro o político de então que não fosse lá pedir a sua bênção e o seu apoio político. Em tempos de comunicações precárias e de vazio de Poder Central, os mais espertos se davam bem e tiravam o máximo proveito da ignorância do povo e da fé totalitária que se tinha nos padres e na Igreja. Padre Cícero, raposa velha, viu na Coluna Prestes uma ameaça ao seu latifúndio e, consequentemente, ao seu reinado; se vitoriosos, os comunistas passariam os padres no facão e distribuiriam os latifúndios com o povo. Era o que se dizia, além de se falar que eles também comiam criancinhas. Só havia um jeito de barrar a Coluna Vermelha: criar um exército paralelo, vez que o oficial nada fazia para conter o avanço dos comunistas.

No dia 4 de março de 1926 o padre Cícero convocou o funcionário federal do Ministério da Agricultura, Pedro Albuquerque Uchoa, e ordenou que o mesmo promovesse Lampião a capitão. Manda quem pode e obedece quem tem juízo e assim ele colocou três cadarços azuis no ombro do emocionado cangaceiro; Sabino, lugar-tenente de Lampião, ganhou dois cadarços: estava promovido, oficialmente, a tenente. Só não cantaram o Hino Nacional porque, naquela época, (como hoje também) pouca gente sabia a letra e o Hino Nacional não era tão nacional assim.

Lampião, agora travestido de Capitão Virgulino Ferreira, saiu por aí exibindo orgulhosamente suas divisas de oficial da Pátria Amada e saqueando cidades para comemorar o feito. O funcionário do Ministério da Agricultura, Pedro Albuquerque, foi chamado ao QG do Exército, em Recife, onde enfrentou um general pra lá de furibundo:

– Por que vossa mercê deu patente de capitão a um bandido?
– Foi porque ele não me pediu de general. Se tivesse pedido, eu teria dado! 

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