Aproveitando
o aniversário de morte do famigerado Lampião, hoje contarei, para quem não
sabe, como o rei do cangaço se tornou Cavaleiro de Sua Majestade, a Caatinga,
ou seja, de como ganhou patente de capitão do Exército e saiu por aí exibindo
suas divisas oficiais para uma população temerosa e incrédula com o novo poder
investido no chefe do cangaço, senhor Virgulino, de Águas Belas, Pernambuco.
–
Virgulino não! Capitão Virgulino Ferreira!
Nos
tempos em que as missas eram rezadas em Latim, Padre Cícero Romão Batista, o
Padim Ciço de Juazeiro do Norte, além das atividades eclesiásticas, exercia a
função de grande latifundiário e de maior líder político do Ceará e das
redondezas nordestinas, sendo raro o político de então que não fosse lá pedir a
sua bênção e o seu apoio político. Em tempos de comunicações precárias e de
vazio de Poder Central, os mais espertos se davam bem e tiravam o máximo
proveito da ignorância do povo e da fé totalitária que se tinha nos padres e na
Igreja. Padre Cícero, raposa velha, viu na Coluna Prestes uma ameaça ao seu
latifúndio e, consequentemente, ao seu reinado; se vitoriosos, os comunistas
passariam os padres no facão e distribuiriam os latifúndios com o povo. Era o
que se dizia, além de se falar que eles também comiam criancinhas. Só havia um
jeito de barrar a Coluna Vermelha: criar um exército paralelo, vez que o
oficial nada fazia para conter o avanço dos comunistas.
No
dia 4 de março de 1926 o padre Cícero convocou o funcionário federal do
Ministério da Agricultura, Pedro Albuquerque Uchoa, e ordenou que o mesmo
promovesse Lampião a capitão. Manda quem pode e obedece quem tem juízo e assim
ele colocou três cadarços azuis no ombro do emocionado cangaceiro; Sabino, lugar-tenente
de Lampião, ganhou dois cadarços: estava promovido, oficialmente, a tenente. Só
não cantaram o Hino Nacional porque, naquela época, (como hoje também) pouca
gente sabia a letra e o Hino Nacional não era tão nacional assim.
Lampião,
agora travestido de Capitão Virgulino Ferreira, saiu por aí exibindo
orgulhosamente suas divisas de oficial da Pátria Amada e saqueando cidades para
comemorar o feito. O funcionário do Ministério da Agricultura, Pedro
Albuquerque, foi chamado ao QG do Exército, em Recife, onde enfrentou um
general pra lá de furibundo:
–
Por que vossa mercê deu patente de capitão a um bandido?
–
Foi porque ele não me pediu de general. Se tivesse pedido, eu teria dado!
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