terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Cala a boca já morreu

O título acima era um axioma muito empregado nos meus tempos de criança-adolescente e que, de certo modo, revelava o direito de se falar o que se queria, principalmente pelas bocas desaforadas, que depois foi traduzido para “liberdade de expressão”. Em verdade, a expressão completa é “cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu” e muitos dos meus dez leitores já devem ter ouvido ou feito uso da mesma.

Mas esse “cala a boca já morreu” acima, é o título de uma carta da Editora Abril, endereçada a este escriba que vos fala, relembrando meus aéreos tempos de assinante da Revista Veja quando ela se incluía como uma revista de resistência nos angustiantes anos de chumbo, sob a batuta do destemido Mino Carta. Agora, abraçada a causas menos nobres, ou melhor, espúrias, que já teve até um Carlos Cachoeira opinando sobre a linha editorial da revista, ela quer que eu volte a ser assinante e acompanhe as mudanças que se seguem nesse país pós-traumático. Para isso, me ofereceram até desconto de setenta por cento. Mesmo assim liguei para a Editora para pechinchar mais ainda:

- Vocês me mandam a revisa de graça e me pagam quinhentos pilas para ler!

Era uma proposta razoável. Meus advogados disseram que eu era burro, um fracasso como negociador. Dez mil reais era o justo. Seria. Depois de pagar os honorários devidos ficaria com menos de quinhentos paus. Por isso a negociação direta, sem intermediário.

A Editora não aceitou, mas na semana passada me ofereceram a revista Veja pelo preço de dez por cento do valor da assinatura. Mais dia, menos dia, vão terminar aceitando a minha proposta e aí quem não vai querer sou eu. Só se me pagarem os dez mil reais que os advogados sugeriram. Sem os honorários, claro.

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