Sou de uma geração que se caçava mariposas ambulantes. Não havia motel
e, mesmo que houvesse, de nada adiantava, pois faltava o cabral e nossos
pais sequer sonhavam que praticávamos o pecado original no despertar da
adolescência. Então, surgia outro tipo de caça: encontrar um moitel ou
uma rua deserta nas noites silenciosas e úmidas de Alagoinhas, onde
qualquer sussurro mal controlado tornava-se som amplificado. Às vezes a
gente invadia os vagões vazios de trens de carga na Estação São
Francisco, mas um dia alguém dormiu depois do ora-veja e, ao acordar,
estava na cidade de Aramari, trinta quilômetros adiante no sentido Oeste. Hoje, com tanto acesso, facilidades e
mariposas globalizadas, em vez de se caçar a sublimação metafísica, os
jovens perdem-se na procura de Pokémon.
Já não se faz mais adolescente como antigamente, diria o meu pai, se vivo fosse.
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