Na minha linda infância no velho
Junco ninguém festejava o dia dos namorados. Num território arcaico, namorar
era coisa de vadias. Mas a mulherada gostava de atanazar o juízo de Santo
Antônio na véspera do seu dia, na beira da fogueira. E haja santo dormindo de
cabeça para baixo! Haja brasa da fogueira a ser jogada na bacia de água fria!
Havia o tal responso de Santo Antonio
que nunca entendi o que era. As minhas tias e as minhas irmãs prendiam a ponta
de uma chave dentro de um livro, duas apoiavam a cabeça da chave no dedo
indicador e perguntavam:
"Santo Antônio está
presente?" – se o santo estivesse presente, a chave balançava e o livro
pendia para o lado. E continuavam:
"Eu vou me casar com quem? O
primeiro nome começa com a letra A? Letra B?"
E seguiam perguntando até chegar na
letra do pretendente. Era nessa hora que acontecia o milagre: a chave virava e
o livro caía. Elas pulavam eufóricas, gritavam triunfantes e se abraçavam.
Sorriam felizes, certas de casamento consumado.
Como eu disse acima, nunca entendi
direito esse sistema de se arranjar casamento por interferência de Santo
Antônio, mas tenho absoluta certeza de que o santo enganou as mocinhas. A minha
irmã que o santo dizia que ia se casar com a letra P, se casou com A, um
petroleiro que foi levar o progresso para o velho Junco. A outra, cuja chave
girava na letra L, se casou com outro A, também petroleiro. E as minhas tias,
que faziam dupla com minhas irmãs e pulavam e gritavam felizes quando o santo
soprava na letra J, morrerão virgens de pai e mãe e com as tabacas ensebadas,
como dizia Zé de Valério, o carreiro do meu pai.
Será que estavam destinadas a Jesus
Cristo?
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