segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

De raios e trovões

Certa vez, voei do Galeão para Salvador debaixo de sete camadas de nuvens e raios. Quem conhece o Rio de Janeiro sabe que chuva lá não é garoa. As nuvens negras e seus raios mortais ficam a vinte metros do chão. Antes de ir para o aeroporto, meu irmão me disse:

- Nem vá que não vai dar teto!
- Preciso bater cartão à meia-noite.
Naquele tempo viajar de avião era moleza. Parava no bar do aeroporto e esvaziava um litro de rum nos trinta minutos de espera. Se o avião caísse ou não, não estava nem aí.
Era um avião da Viação Cruzeiro quando a companhia aérea estava no estertor da morte. Mal subiu quinze metros, começou a se desmanchar. As portas dos maleiros abriram de vez, as bagagens começaram a cair, o povo a gritar - uns a rezar - e eu, calmamente, observando os raios lá fora, imaginando se haveria vida após a morte.
Felizmente, não foi meu dia de saber.

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